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RURAL. Criação de consórcios pode alavancar setor agropecuário e contribuir para a segurança alimentar

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Criado em Quarta, 30 Setembro 2020 15:49

Segurança alimentar e desenvolvimento econômico são foco de discussão na Comissão de Agropecuária da ALMG.

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O principal objetivo seria alavancar a produção de origem animal, contribuindo para a segurança alimentar e a saúde da população . Fotos: Pixabay


Da redação da Rede Hoje


 A Comissão de Agropecuária e Agroindústria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais promoveu, nesta quarta-feira (30/9/20), mais uma rodada de discussões sobre como os produtores rurais, sejam eles grandes ou pequenos, podem sair da informalidade, se desenvolver e gerar benefícios para toda a população do Estado, especialmente no que se refere a produtos de origem animal.

 

Encampado pelo presidente da comissão, deputado Coronel Henrique (PSL), o debate foi realizado na semana em que o Decreto Federal 10.032, de 2019, completa um ano de edição. A norma trata da participação dos consórcios públicos municipais no Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi), de modo que os produtores tenham acesso a uma certificação mais ágil e simplificada de seus produtos, se estiverem no âmbito de consórcios que tenham a questão agropecuária entre suas finalidades. E os produtos passariam a ser comercializados livremente entre as cidades consorciadas.

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O deputado Coronel Henrique é autor do Projeto de Lei (PL) 2.103/20, que cria o Programa Estadual de Incentivo aos Consórcios Intermunicipais Agropecuários, denominado Programa Minas Forte. O projeto foi apresentado na ALMG no último mês, tendo sido antes discutido com prefeitos e técnicos de vários órgãos, segundo o parlamentar. 

 

O principal objetivo, afirmou o deputado, seria alavancar a produção de origem animal, contribuindo para a segurança alimentar e a saúde da população e, por conseguinte, para o desenvolvimento econômico da região, com vistas à recuperação econômica tão necessária, no momento pós-pandemia de coronavírus.


 


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LUTO. Única pessoa resgatada com vida do acidente entre Van e caminhão na BR 365 morreu na noite deste domingo

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Criado em Segunda, 28 Setembro 2020 07:12

Mario Teixeira Xavier Júnior estava internado no CTI do Hospital Regional Antônio Dias em Patos de Minas.

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 Mesmo internadamo Centro de Tratamento Intensivo a vítima não resistiu Fotos: Rede Hoje


Da redação da Rede Hoje


As estatísticas não registram como vítima de acidente de trânsito as pessoas que morrem no no hospital depois deste tipo evento. Este é o caso do único passageiro que havia sido resgatado com vida da tragédia que aconteceu no fim de semana passado na BR-365, Mario Teixeira Xavier Júnior, de 26 anos, que faleceu na noite deste domingo (27/09). Ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva – CTI do Hospital Regional Antônio Dias em Patos de Minas. As informações foram apuradas pelo site Patos Notícias.

 

Na madrugada de domingo (20/09) no quilometro 373 da BR-365, entre Patos de Minas e Varjão de Minas, a van com placas de Patrocínio que transportava o grupo de trabalhadores rurais e seguia para Patrocínio, quando invadiu a pista contrária para desviar de um galho de uma árvore que havia caído na pista e bateu de frente com o caminhão de Itabaiana/SE e carregado com limão. O motorista do caminhão e 11 pessoas que estavam na van morreram no local.

 

Mario Xavier Junior, natural de Januária/MG, foi único sobrevivente, mesmo com traumatismo craniano e fratura exposta no joelho esquerdo. Foi transferido para o Hospital Regional Antônio Dias, em Patos de Minas, onde ficou internado e morreu na noite deste domingo.

 

O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Patos de Minas e depois será entregue aos familiares. Portanto, chegou a 13 o número de mortos neste acidente do dia 20 de julho.

 

Fonte: Patos Notícias



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TRAGÉDIA NA 365. Acidente na BR 365 mata 9 homens, 2 mulheres e 1 criança que viriam para Patrocínio

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Criado em Domingo, 20 Setembro 2020 10:55
As vítimas são trabalhadores rurais que vinham de Janária no Norte de Minas e iriam trabalhar numa fazenda de Patrocínio.
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O acidente ocorreu na madrugada de hoje. Foto: Patos Hoje
Da redação da Rede Hoje com informações do Patos Hoje e PF
 Uma tragédia de grandes e graves proporções foi registrada na madrugada deste domingo (20/09) no quilômetro 373 da BR-365 em Patos de Minas, próximo à Curva dos Moreiras. Uma van, com placas de Patrocínio, bateu de frente com um caminhão, com placas de Itabaiana (SE). No acidente morreram 12 pessoas.
 
Segundo informações da Policia Rodoviária Federal, 12 pessoas morreram no local e um ocupante da van ficou gravemente ferido. Entre os mortos há 9 homens, 2 mulheres e 1 criança. As vítimas são trabalhadores rurais. 
 
De acordo com informações do site Patos Hoje, os médicos legistas trabalham para identificar as vítimas. As vítimas da tragédia foram levadas neste domingo (20) para o Instituto Médico Legal de Patos de Minas. O trabalho é para identificar e fazer a regular constatação dos óbitos. 
 
Entre os mortos estão homens, mulheres e uma criança. Eles seguiam de Januária/MG para Patrocínio/MG, onde trabalhariam em uma fazenda de café. 
 
"A família está completamente abalada. Nós conversamos com um familiar e ele informou que as vítimas seriam trabalhadores rurais e iriam trabalhar em uma fazenda de café no município de Patrocínio", informa o repórter Farley Rocha do Patos Hoje. A Van teria tentado desviar de um galho de árvore que havia caído na pista 
 
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CIÊNCIA. Solução à base de nióbio desenvolvida pela UFMG desativa o novo coronavírus

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Criado em Domingo, 13 Setembro 2020 06:38

Pesquisadores criaram produto que protege superfícies por 24 horas, pode ser aplicado como gel ou líquido e não agride as pessoas e o meio ambiente

 

niobioDa redação da Rede Hoje


Pesquisadores da UFMG criaram solução à base de nióbio capaz de proteger diferentes tipos de superfície do novo coronavírus, por até 24 horas. Aplicada na forma de gel ou líquido spray, a solução tem ação prolongada para limpeza e desinfecção das mãos e não causa reações adversas, como sensação de ressecamento da pele. O produto também se mostrou ativo na proteção de superfícies em ambiente doméstico e equipamentos e utensílios em ambientes médicos e odontológicos.

 

A eficiência da invenção – registrada pela startup Nanonib®, criada pelo grupo da Universidade em parceria com investidores privados – foi comprovada em laboratório de nível de biossegurança NB-3, ambiente no qual se trabalha com microrganismos causadores de doenças humanas graves (devido ao risco e para comprovar a eficácia direta contra o coronavírus) e caminha para estar disponível em breve para a sociedade.

 

Segundo o professor Luiz Carlos de Oliveira, do Departamento de Química da UFMG, o composto de nióbio produzido para a desativação do coronavírus, que será chamado comercialmente de INNIB-41®, está relacionado a uma família de compostos relatados na literatura, os polioxoniobatos. “Sintetizamos uma forma nova de um polioxoniobato com capacidade de gerar espécies de oxigênio que desativam de forma eficiente uma elevada carga do coronavírus. Essas espécies de oxigênio são liberadas no meio ao se deparar com uma bactéria ou um vírus”, diz Oliveira. 

 

Líder do grupo de pesquisa, o professor explica que a Nanonib® produz, de forma única no mundo, compostos de nióbio na forma gel, sem utilizar solventes orgânicos ou polímeros e, por isso, sem comprometer a saúde nem o meio ambiente. “Vamos criar soluções contendo moléculas inovadoras de nióbio, de baixo custo de produção e versáteis, já que também poderão ser inseridas em produtos de limpeza e cosméticos disponíveis no mercado.” Ele acrescenta que as potencialidades da descoberta desses materiais avançados de nióbio extrapolam o uso no combate ao novo coronavírus: “Em testes preliminares, eles apresentaram excelentes propriedades e ações fungicida, bactericida e virucida”. 

 

Ativo protegido

 

A invenção foi protegida pela UFMG, por meio da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), e está em processo de análise pelo Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).

  

Com sede no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), a Nanonib® foi fundada em 2019 com foco na produção de materiais avançados e novos produtos contendo o nióbio para aplicações diversas nas áreas de saúde e cosméticos. Os sócios pesquisadores são professores da UFMG e protagonizaram vários casos recentes de licenciamento e transferência de tecnologia da Universidade. “A parceria com investidores de risco foi fundamental para o sucesso da parceria até aqui. Aproximar a academia do setor produtivo é fundamental para que mais iniciativas como a da Nanonib® surjam e beneficiem a sociedade”, afirma Luiz Carlos Oliveira. 

 

Segundo o professor, a expertise da equipe é focada em ciência pura e aplicada nas áreas de síntese de novos materiais, catálise, química computacional e cálculos teóricos. Os pesquisadores atuam em diferentes linhas, com destaque para a síntese e aplicação de compostos contendo nióbio. 

 

“As tecnologias desenvolvidas com o nióbio têm alto grau de ineditismo e grande potencial de geração de valor e podem ser de interesse estratégico e econômico para Minas Gerais, que tem a maior produção de nióbio no mundo”, diz Oliveira. Ele comenta que a Nanonib® é a primeira spin-off no mundo a criar produtos à base de nióbio para aplicações nas áreas de saúde e cosméticos. A plataforma de nióbio deverá incorporar outras tecnologias e materiais nobres desenvolvidos no Departamento de Química da UFMG e nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs).

 

Com Assessoria de Comunicação do BH-TEC


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CAFÉ. ACARPA confirma 28ª edição do Seminário do Café da Região do Cerrado com maior tempo de evento

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Criado em Quinta, 03 Setembro 2020 08:53

Seminário vai durar 40 dias, Acarpa prepara ainda arrecadação entre produtores para operações da PM no campo

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Anúncio foi feito nesta quarta-feira na sede da Acarpa. Fotos: reprodução Rede Hoje e divulgação Acarpa


 

DA REDAÇÃO DA REDE HOJE


A Associação dos Cafeicultores da Região de Patrocínio – ACARPA confirmou nesta quarta-feira, 2/9, a realização da 28ª edição do Seminário do Café da Região do Cerrado. Entre as novidades anunciadas em relação as edições anteriores, está o período do evento, que vai durar 40 dias. Começando em outubro e terminando começando em 12 de novembro.

 

O patrulhamento rural que é feito na região de Patrocínio receberá veículos pela Acarpa que está organizando uma arrecadação de recursos, especialmente em café, para a compra.

 

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Fred Elias, presidente da Acarpa

 

“Este é um novo modelo. Vamos realizar uma feira diferente, mas com o intuito de fomentar a cafeicultura junto as instituições financeiras, empresas de defensivos, insumos, maquinários, armazéns de café, cooperativas, então a gente fica muito satisfeito por mais uma realização do Seminário em 2020”, comentou o presidente da Acarpa, Fred Elias. 

 

Segundo Fred Elias, as palestras serão realizadas de forma online, com os palestrantes podendo estar até em outro país. A grade será divulgada em outro momento, pois palestrantes e autoridades demoram um tempo maior para confirmar as participações. Porém, ele acredita que nos dias 10 e 11 de novembro deve ser realizado esse conteúdo.

 

A exposição de máquinas e empresas de defensivos e insumos será realizada no parque de exposições, mas não haverá a utilização da Arena Cerrado como nos últimos anos e respeitando as normas de segurança como álcool em gel, distanciamento e evitando aglomerações através da distribuição de convites por parte das empresas participantes. 

 

Ele explicou que o acesso ao Seminário será restrito a pessoas convidadas e durante os 40 dias, as empresas parceiras vão distribuir cupons para os produtores que fizerem negócios com as empresas e que concorrerão a carro, moto e televisores.

 

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Oswaldo Nini, coordenador de segurança da Acarpa

 

PATRULHA RURAL. O patrulhamento rural que é feito na região de Patrocínio receberá veículos pela Acarpa que está organizando uma arrecadação de recursos, especialmente em café, para a compra. Segundo Oswaldo Nini, coordenador de segurança da entidade, a expectativa é de que pelo menos 1.500 podutores rurais doem pelo menos uma saca de café. "Um veículo custa, em média, o valor de 250 sacas de café. Se todos doarem uma saca cada, temos condições de comprar duas ou três viaturas, mesmo porque essa campanha abrange também Serra do Salitre e Coromandel(região de Tabões)”. 

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Major Guimarães subcomandante do 46o BPM

 

O Major Guimarães, subcomandante do 46o Batalhão de Polícia Militar de Patrocínio, disse que essa doação permitirá a Polícia Militar durante a safra mais segura, “com a incidência de menos crime, se possível nenhum crime. A Polícia Militar vai trabalhar de forma preventiva em cooperação com os cafeicultores da região. A finalidade principal da PM nesta safra é a prevenção”, explicou.

 

VEJA A REPORTAGEM DO "HOJE RURAL" NA REDE HOJE:

 

 


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CAFÉ. Conab define atualização da safra de café em apenas três etapas devido ao coronavírus

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Criado em Terça, 01 Setembro 2020 18:35

O próximo anúncio marcado para o dia 22 de setembro é considerado o 3º da safra, uma vez que o segundo estava marcado para o mês de maio e teve que ser cancelado pelas restrições derivadas do isolamento.

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Minas Gerais registrou a combinação de pesquisa remota com a saída de campo, devido à propagação da doença não ocorrer de forma uniforme. Foto: © Arquivio/Marcelo Camargo/Agência Brasil


DA REDAÇÃO DA REDE HOJE


Devido às ações de enfrentamento ao novo coronavírus, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve realizar apenas três levantamentos sobre o andamento da cultura de café na safra 2020, ao invés das quatro atualizações feitas normalmente em cada ano. Com isso, o próximo anúncio marcado para o dia 22 de setembro é considerado o 3º da safra, uma vez que o segundo estava marcado para o mês de maio e teve que ser cancelado pelas restrições derivadas do isolamento.

 

O cancelamento do segundo anúncio ocorreu em virtude do período de análise coincidir já com o ciclo do 3º levantamento. Desde 2001, a Conab realiza o acompanhamento da evolução do cultivo de café e divulga as informações anuais anunciadas em janeiro, maio, setembro e dezembro. “Todas as estimativas realizadas pela estatal são precedidas por levantamentos de campo, época em que os técnicos da empresa percorrem as principais regiões produtoras do país. No entanto, devido à pandemia, neste ano não pudemos realizar o 2º levantamento in loco”, ressalta o superintendente de Informações do Agronegócio da Companhia, Cleverton Santana.

 

Com o afrouxamento das medidas de isolamento social em algumas cidades, os dados para o 3º levantamento puderam ser coletados com algumas saídas a campo, realizadas pela Conab entre os dias 9 e 22 de agosto. A apuração dos dados ocorreu de maneira presencial nos principais estados produtores. Minas Gerais registrou a combinação de pesquisa remota com a saída de campo, devido à propagação da doença não ocorrer de forma uniforme. Dessa maneira, o prazo de coleta de informações no estado mineiro se estenderá até dia 4 de setembro.

 

A fim de preservar a saúde de todos os envolvidos no trabalho, a Conab segue diversos protocolos para prevenção à COVID-19. Durante as visitas os colaboradores, além de usar máscaras e portar álcool gel, devem manter uma distância segura entre os produtores. No caso da verificação do plantio da cultura dentro das lavouras, é realizada pelo técnico da estatal sem acompanhamento.


 

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REPORTAGEM. Mourão concentra políticas para a Amazônia nas Forças Armadas

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Criado em Terça, 01 Setembro 2020 11:12

 Vice-presidente centraliza diretrizes, recursos públicos e informações para atrair apoio de investidores insatisfeitos colocando-se como alternativa a Salles e Bolsonaro

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Mourão tem definido sua “missão” na Amazônia como o enfrentamento das demandas do que chama de “TIG”, sigla que inventou para se referir a terra, índio e garimpo. Foto: Agência Brasil


Por Vasconcelo Quadros da Agência Pública

 


Em seis meses na presidência do Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), o general Hamilton Mourão centralizou nas Forças Armadas o comando das políticas públicas para a região e ampliou o desmonte dos órgãos de controle civil contra os crimes ambientais. Depois do Ibama e da Funai, que passaram a atuar sob a hierarquia operacional do Exército, o alvo agora é o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), uma instituição de 70 anos reconhecida internacionalmente pela credibilidade no monitoramento por satélite do desmatamento e queimadas, que aumentaram em relação ao mesmo período do ano passado. A ameaça ficou explícita com o anúncio, pelo Ministério da Defesa, da compra de um microssatélite de monitoramento ao custo, conforme nota de empenho do Ministério da Defesa, de R$ 145.391.861,00.

Técnicos do Inpe ouvidos pela Agência Pública, que pediram para não ter os nomes citados, informaram que, se a intenção do governo for melhorar o monitoramento de crimes ambientais como desmatamento e garimpos ilegais, a compra não faz sentido por duas razões básicas: construído para produzir imagens de geleiras, o equipamento a ser adquirido é operado numa banda que não penetra nas copas de árvores e, em resolução de imagens, é bem inferior aos satélites do Inpe, que o governo tem de graça. Além disso, seria necessário montar em terra uma estrutura de inteligência para decodificar imagens e pagar o dono do foguete (empresa ou governo) que lançaria o microssatélite no espaço, o que dobraria o valor empenhado. Para funcionar, o equipamento deveria estar conectado a um conjunto de satélites que o Inpe já utiliza.

 “O Inpe demorou 30 anos para construir um sistema de monitoramento e produção de imagens e dados seguro reconhecido internacionalmente. O que está em curso é o desmonte e militarização do Inpe para controlar dados”, diz o Acioli Cancellier Olivo, pesquisador do Inpe aposentado e diretor do Sindect, entidade sindical que representa servidores das áreas científicas do órgão e da Agência Espacial Brasileira (AEB). Os recursos, segundo ele, seriam mais bem aproveitados reforçando o sistema já existente e melhorando o orçamento do Inpe deste ano, cerca de R$ 4 milhões. Para o ano que vem não há nem previsão orçamentária.

A ideia de controlar informações para evitar as críticas internacionais sobre a perda de controle no desmatamento da floresta, segundo Olivo, ficou evidente com a exoneração do ex-presidente do Inpe Ricardo Galvão e, logo em seguida, a criação do Conselho da Amazônia com roupagem militar, mas sem a participação, como era costume, de representantes dos órgãos de controle ambiental. O pesquisador diz que um plano de reestruturação interna em curso, que visa substituir civis em idade de aposentadoria, cerca de 60% dos servidores, por militares deve completar o desmonte do órgão. 

Ricardo Galvão, ex-presidente do Inpe, foi exonerado do cargo por divulgar dados de desmatamento

A dispensa de licitação no processo de compra chama atenção, principalmente porque o governo também não explica que tipo de microssatélite pretende comprar. Na nota de empenho, o Ministério da Defesa diz apenas que se trata de uma compra em andamento e que os recursos são “oriundos de leis ou de acordos anticorrupção”, ou seja, sairiam do montante de R$ 530 milhões recuperados pela Operação Lava Jato, destinados para “fiscalização e combate a ilícitos na Amazônia Legal e sua região fronteiriça”. Mas não explica por que gastar recursos públicos em um equipamento que prestará serviço de qualidade inferior ao atual. 

Além das doações da Lava Jato, em meados de agosto o Congresso aprovou o projeto que destina R$ 410 milhões de recursos extraordinários para Mourão gastar até novembro em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) destinadas a combater queimadas, garimpos ilegais e grilagem de terras, crimes que aumentaram nos 18 meses do governo do presidente Jair Bolsonaro.

TIG: terra, índio e garimpo

Mourão tem definido sua “missão” na Amazônia como o enfrentamento das demandas do que chama de “TIG”, sigla que inventou para se referir a terra, índio e garimpo. Diz que sua prioridade de gestão é a regularização fundiária de posses com até 2.500 hectares, apesar da urgência de medidas para conter invasões em terras indígenas e desmatamento. 

“Neste momento há 30 mil locais sendo desmatados na Amazônia, 40 mil garimpeiros estão dentro da terra Yanomami e 300 mil pessoas, na região atrás de terra, comprando de grileiro que loteia e vende as glebas. No ano passado foram perdidos 1,2 milhão de hectares. Este ano as previsões indicam que serão 1,5 milhão de hectares de floresta no chão, e não tem como repor”, diz o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara. 

Agostinho diz que até aqui o CNAL tem sido apenas um ambiente de discussão de políticas públicas, quando o país e o mundo cobram resultados concretos para conter o desmatamento. Numa audiência recente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirma o deputado, embaixadores europeus informaram que produtos brasileiros de áreas desmatadas ilegalmente não entrarão mais no continente. Segundo ele, os representantes da Noruega e da Alemanha disseram que, sem a redução dos crimes ambientais, os governos desses países não contribuirão mais para o Fundo Amazônia.

O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) é presidente da Comissão de Meio Ambiente da Câmara

No Brasil, bancos e grandes empresas do agronegócio, preocupados com os efeitos nas exportações, têm feito sucessivas videoconferências com Mourão. “Se pudessem, os próprios bancos fiscalizariam para evitar o desmatamento. Perderemos bilhões de dólares”, diz Agostinho. Segundo ele, embora o governo se escude na pandemia para justificar o mau momento da economia, parte do capital que está fugindo do Brasil é resultado da trágica gestão do governo Bolsonaro nas questões da Amazônia.

Em campanha na Amazônia

Mourão busca se apresentar como alternativa confiável para os investidores. Na agenda do vice-presidente, cabem tanto encontro com a elite financeira quanto uma prosaica aula de preservação da floresta, nas manhãs das segundas-feiras, quando dispara pelas redes sociais e um sistema de transmissão que inclui a Voz do Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicações (EBC), áudios e vídeos para a Amazônia, pregando a preservação da floresta e puxando a orelha dos criminosos.

Em sua gestão à frente do Conselho Nacional da Amazônia Legal,o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, centralizou o comando da região nas Forças Armadas

“Um alô especial para Boca do Acre, aí no sul da Amazônia, para Apuí, para o pessoal que reside nos municípios próximos a Porto Velho, para o pessoal de Novo Progresso, aí no Pará, de Castelo dos Sonhos, de São Félix do Xingu. Minha gente, esses lugares que estou citando são aqueles onde tem ocorrido o maior número de desmatamento e queimadas ilegais. Então, nossos proprietários rurais, nossos assentados, vamos cooperar com nosso trabalho. Vamos lembrar que mantendo a floresta em pé nós teremos acesso a regularização fundiária. Portanto, não vamos desmatar, não vamos queimar”, disse Mourão num dos programas. O apelo é sempre seguido de um pedido ingênuo: que os próprios infratores avisem os bombeiros ou denunciem o crime através de um aplicativo criado pela vice-presidência com o nome de “guardiões da floresta”, título que já havia sido adotado por comunidades indígenas que monitoram suas terras contra invasões.

Nas áreas onde tradicionalmente ocorre a maior parte dos incêndios criminosos, o chamado “arco do desmatamento”, no Pará e Mato Grosso – responsáveis por 90% da destruição –, as decisões operacionais têm se revelado um desastre, segundo os servidores do Ibama. Mourão inverteu os papéis: há mais de uma década comandando as operações, com um corpo técnico especializado em inteligência e ações repressivas, o Ibama – vinculado ao Ministério do Meio Ambiente – passou a ser subordinado ao Exército, numa decisão que já está sendo questionada pelo Ministério Público Federal (MPF) por submeter às Forças Armadas outros ministérios com atribuições e estrutura distintas, o que seria inconstitucional. 

“Os militares estão acostumados à logística. Não têm conhecimento dos pontos estratégicos e nem do sistema de inteligência que possuímos. A ajuda seria bem-vinda desde que estivessem subordinados ao Ibama, como sempre foi”, diz à Pública o fiscal José Olímpio Augusto Morelli, ex-chefe de fiscalização da autarquia, que perdeu o cargo ao multar o então deputado Jair Bolsonaro por pesca ilegal na Estação Ecológica Tamoios, em Angra dos Reis, no litoral fluminense, em 2012.

Morelli afirma que o resultado operacional tem sido ruim porque, além de suspenderem ações pela pressão de infratores, os militares se recusam a aplicar a lei que permite a queima e destruição de máquinas ou veículos usados em garimpos ilegais e no desmatamento de áreas griladas. “Bolsonaro é devedor dessa turma e a favor do desmatamento. Criou o conselho para fazer teatro e colocou o Mourão para tentar dar credibilidade”, diz o fiscal.

Em julho, uma operação que estava em curso em Jacareacanga, no Pará, contra invasões nas terras dos índios Munduruku foi interrompida depois de o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ter sido pressionado por empresários de garimpo.

A distribuição dos recursos da Lava Jato entre as instituições, segundo Morelli, é desproporcional. O Ibama ficará com menos de 5% do montante; o grosso do dinheiro, mais de R$ 450 milhões, será usado basicamente para GLO para custear ações de bloqueio de estradas e rios. “São operações de custo altíssimo, mas de resultados pífios. Nos rios Amazonas e Tapajós, onde o problema está no garimpo, eles só fiscalizam embarcações. Muitos colegas não estão indo a campo porque os papéis foram invertidos e eles não são chamados para participar do planejamento das operações”, afirma o fiscal. Ele estima em cerca de 10% o número de fiscais que aceitam participar das operações conduzidas pelo Exército.

Salles e Mourão

Na sexta-feira passada, Mourão e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, divergiram publicamente depois de uma nota bombástica de Salles anunciando que suspenderia todas as operações de combate ao desmatamento a partir desta segunda-feira (31). Segundo o ministro, as verbas previstas no orçamento foram bloqueadas pela Secretaria de Governo e pela Casa Civil da Presidência da República, ambas comandadas por generais. Foi imediatamente desmentido por Mourão, que atribui o anúncio à “precipitação” do ministro, e disse que os recursos de R$ 60 milhões seriam desbloqueados no mesmo dia, o que ocorreu. Salles fez questão de rebater, afirmando que a verba só havia sido liberada depois da nota que soltou. Mas Mourão se mostrou mais influente – ou mais bem informado. 

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, divergiu publicamente com o vice-presidente Hamilton Mourão sobre a suspensão de combate ao desmatamento

Com Salles “queimado” entre os investidores internacionais, Mourão tenta se mostrar como alternativa confiável, mas sua estratégia prescinde do diálogo não apenas com as comunidades da Amazônia, mas também com as instituições de pesquisa que há anos contribuem para a formulação de políticas públicas na Amazônia. Mourão usa como retórica a soberania nacional e o projeto que chama de bioeconomia, mas sem conhecimento científico é difícil conciliar a geração de renda com preservação ambiental. “A soberania nacional no cenário internacional hoje se mede em quilograma de massa cinzenta ativa, em ‘cerebrodutos’ funcionantes. A China, Rússia, Inglaterra e Alemanha são respeitadas porque tem cientistas de nível A, em grande número, prontos para formar quadros técnicos e soluções de utilidade. Na Amazônia, temos seis cientistas nível A do CNPq. Duas pós-graduações em botânica e duas em geologia. Assim não dá samba”, diz à Pública o cientista Ennio Candotti, ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que há mais de 40 anos estuda o bioma amazônico. 

Ele é um crítico das políticas desenvolvidas por militares na Amazônia. “O número de generais não é relevante para explorar de modo civilizado o patrimônio que a Amazônia representa. Há 50 anos se tenta incentivar empresários e banqueiros a investir em bioeconomia. Vincularam-se na Suframa [Superintendência da Zona Franca de Manaus], desde 1991, cerca de R$ 15 bilhões para P&D [Pesquisa e Desenvolvimento] das empresas com resultados visíveis zero!”, afirma, citando como exemplo do fracasso o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), que, segundo ele, “há 20 anos tenta existir”. A entidade, conforme o cientista, nunca conseguiu sequer nomear conselho técnico deliberativo, previsto na criação. 

Segundo Candotti, diretor do Museu da Amazônia (Musa), hoje se conhece menos de um décimo das plantas amazônicas. “Só conservamos ou exploramos, com possível sustentabilidade, o que conhecemos. Insisto em um ponto. A floresta amazônica tem centenas de milhões de anos de história natural. Fungos, polens plantas, peixes, insetos desenvolveram estratégias de sobrevivência que deveriam merecer mais atenção para desenhar estratégias de desenvolvimento sustentável. A floresta cresce exuberante em solos pobres. O caso da bergenina, extraída da casca do uxi-amarelo [comercializada no mercado a R$ 1 mil o miligrama], é emblemático do que a floresta esconde.”

Ele diz que cientistas quatro estrelas que passaram pela região não foram ouvidos. “A Rússia e a Alemanha se reergueram como? Tinham quadros científicos e técnicos”, afirma, chamando atenção para a necessidade de formar quadros científicos. “Jovens que poderão se dedicar à indústria pesquisa aplicada, à pesquisa básica e ensino devem ser bem formados. E isso é o mais difícil. Há muito pouca gente de talento e boa formação e consciência social na Amazônia. Os melhores vão embora para o Centro-Sul”, lamenta.

Candotti não acredita que haja diferenças entre Mourão e Bolsonaro na política para a Amazônia, que, segundo ele, é semelhante aos tempos da Transamazônica, sob comando dos generais da ditadura, responsáveis, segundo frisa, pela mineração sem escrúpulos e sem controle. Nem na prioridade estabelecida por Mourão, de regularizar as cerca de 700 mil posses irregulares, ele acredita. “O Mangabeira [ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger] tentou. Porque não conseguiu? O território não coincide com o perímetro dos lotes de terra na Amazônia”, observa, sugerindo que se faça uma cartografia social da região. 

Candotti destaca que planejar o desenvolvimento da Amazônia como há 50 anos é hoje insustentável. “Dois bois por hectare é a marca do desenvolvimento”, diz. 

De olho na Presidência

Eleito vice pelo inexpressivo PRTB, nos bastidores Mourão trabalha pelo fortalecimento do partido, para o qual já migraram, conforme cálculos da legenda à Pública, um contingente estimado em cerca de mil militares, entre eles generais da reserva que já estiveram no PSL e outros oficiais que gravitavam entre outras legendas nanicas de direita. Um deles é o general mineiro Marco Felício, que disputou sem sucesso um cargo de deputado em 2018.

O general Paulo Chagas, que foi candidato ao governo de Brasília em 2018 pelo PRT, acha que Mourão deu musculatura ao PRTB ao tirar do partido a influência do ex-senador Luiz Estevão, que cumpriu pena na penitenciária da Papuda, em Brasília, pelos desvios nas obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em São Paulo. O partido sempre foi comandado pelo polêmico Levy Fidelix, mas quem de fato financiava e dominava a legenda, segundo o general, era Estevão. “O Levy era o testa de ferro. Por isso, eu não entraria na legenda”, diz Chagas, que considera acertada a estratégia de Mourão na Amazônia. 

“Mourão conhece a Amazônia e tem um diagnóstico do que deve ser feito. Dentro das contradições desse governo, com Bolsonaro e o ministro Salles agindo numa outra linha, Mourão tem condições de equacionar as demandas amazônicas. Tem conhecimento e experiência. Os partidos de centro-direita, qualquer deles, estão de olho nele. Com ou sem impeachment [de Bolsonaro], ele se construiu como uma opção política”, diz o general Chagas.

Ao personalizar o CNAL, tornando-o seu QG, para onde levou perto de 30 militares, entre eles oficiais de sua confiança não afinados com Bolsonaro – um deles é o general Eugênio Pacelli, seu chefe de comunicação e ex-diretor de controle de armas do Exército, atritado com o presidente por contrariar as pretensões do Palácio do Planalto na flexibilização das normas sobre uso de armas –, Mourão criou um território próprio no governo.

“Mourão tem a temperança que falta a Bolsonaro. Está preparado para qualquer cenário daqui até 2022. É uma opção para as eleições de 2022”, diz Chagas. 

O cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que Mourão encarna militarismo como força política, mas estava “encostado” no papel decorativo que sempre coube aos vices. Com o CNAL sob seu controle, segundo Barreto, Mourão mudou a correlação de forças dentro do governo e passou a enxergar horizonte, a depender, é claro, dos resultados da gestão no CNAL. “Ele terá de se mostrar para o capital, mas, se quiser alçar voo próprio, terá de provocar um racha no governo mais adiante”, diz Barreto. Procurado pela Pública, Mourão não quis dar entrevista.

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública


Por ir ao encontro da linha editorial da REDE HOJE e trazer temas de relevante interesse social, que geralmente são esquecidos pela grande mídia publicamos as reportagens da AGÊNCIA PÚBLICA, com autorização. Tire um tempo e leia as reportagens semanais.Você define o que é importante ou não, mas REDE HOJE aposta, tem certeza que você será tocado pelos textos e vídeos da PÚBLICA que estamos focalizando. Mais uma vez, obrigado pela confiança em nosso trabalho.


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LOBBY INTENSO. Anvisa atropela as próprias regras e pode voltar a autorizar agrotóxico letal

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Criado em Segunda, 17 Agosto 2020 18:53

Agência colocou em pauta a revisão do paraquate, agrotóxico proibido na União Europeia e com data para ser banido no Brasil. Pesquisa usada como argumento pela indústria foi suspensa pela Unicamp

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Pulverização de lavoura.  Foto: Imagem de NT Franklin por Pixabay


Por Ana Aranha, Hélen Freitas, Agência Pública/Repórter Brasil 


Contrariando resolução da própria agência e atropelando normas internas sobre transparência e participação, a Anvisa pode reverter nesta semana a proibição de um dos agrotóxicos mais letais do mundo. O paraquate é proibido na União Europeia e está com data marcada para ser banido no Brasil: 22 de setembro deste ano. Classificado como extremamente tóxico, o órgão regulador decidiu proibi-lo em 2017 devido a evidências de que ele gera mutações genéticas e doença de Parkinson nos trabalhadores que o aplicam.

Faltando pouco mais de um mês para a proibição, porém, a agência reguladora violou suas próprias regras para incluir a revisão desta data na pauta de uma reunião da diretoria colegiada. A reunião está marcada para esta terça dia 18. A primeira norma violada é a que garante transparência ao processo, afirma o procurador federal Marco Antônio Delfino, do Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul, que entrou com uma ação na justiça  pedindo a suspensão da pauta.

O maior problema é que, oficialmente, ninguém sabe quais são os motivos que levaram a Anvisa a colocar a revisão em pauta. Segundo o regimento do próprio órgão, os documentos e informações que vão subsidiar a tomada de decisão devem ser divulgados sete dias antes de cada reunião. Mas as informações da reunião sobre o paraquate nunca foram publicadas.

Procurada pela reportagem, a agência afirmou que “no momento, a Anvisa não se pronuncia sobre este assunto”.

Delfino suspeita que o órgão deixou de publicar as informações justamente devido à fragilidade dos argumentos pela revisão. A reportagem teve acesso a quatro pedidos feitos por produtores rurais e fabricantes de agrotóxicos para que a Anvisa adie (e posteriormente reveja) a proibição. O argumento central são duas pesquisas que, em tese, poderiam provar que o paraquate é seguro, mas que não ficarão prontas antes da data para a proibição. O atraso nas pesquisas é usado como argumento central para adiar a proibição, processo que foi denunciado em matéria da Repórter Brasil e da Agência Pública.

A principal pesquisa, porém, foi suspensa pelo Comitê de Ética da Unicamp depois que a matéria revelou os conflitos de interesses envolvidos na sua concepção. Pago pela Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), o estudo colheu amostras de urina de parte dos trabalhadores da soja para verificar a presença do paraquate.

Depois que ele foi suspenso pela universidade onde estava sendo realizado, restou outra pesquisa também financiada pelas fabricantes do agrotóxico. Doze empresas que produzem o paraquate se juntaram no que chamam oficialmente de “Força-Tarefa Paraquate”. O grupo custeia um estudo sobre a capacidade do agrotóxico provocar mutação nos genes de ratos em um laboratório privado inglês, o Covance Laboratory. 

Elaine Lopes Silva, vice-coordenadora da força-tarefa, afirmou à reportagem que o “atraso” se deve às dificuldades em definir o formato que o estudo deveria ser feito, achar um laboratório capaz e conciliar a agenda do estudo com o tempo da safra da soja. “No primeiro momento em que vimos que esse atraso aconteceria, nós comunicamos e a Anvisa se mostrou bastante aberta”, afirma. “Ela se comprometeu a levar isso [adiamento] para discussão”.

Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, porém, dificilmente uma única pesquisa feita com ratos poderia alterar uma resolução tomada a partir de uma série de estudos com seres humanos. “Não é um trabalho isolado em animais que pode contestar tudo o que já foi demonstrado pela academia científica nestes últimos oito anos, com a publicação de centenas de artigos, de renomadas instituições em muitos países”, afirma a toxicologista Solange Cristina Garcia, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e autora de pesquisa sobre o aumento de morte celular e dano de DNA devido à exposição ao agrotóxico. “Existem trabalhos científicos robustos que demonstram que o paraquate desenvolve a doença de Parkinson em pessoas expostas cronicamente a baixas concentrações deste agrotóxico, que é também extremamente letal em exposição aguda”.

Para o ex-gerente geral de toxicologia da Anvisa e pesquisador da Fiocruz, Luiz Cláudio Meirelles, voltar atrás em uma decisão como essa seria “muito grave”. “Do ponto de vista regulatório, os estudos que foram analisados pela Anvisa já seriam suficientes para a decisão que ela tomou”, afirma. Meirelles, que ocupou o cargo na Anvisa de 1999 a 2012, não lembra de ter visto um processo de revisão desta magnitude desde que entrou na agência.

Lobby intenso

Desde que a decisão de banir o paraquate foi tomada pela Anvisa em 2017, o assunto virou objeto de intenso lobby sobre a agência. Na época, foi dado um prazo de três anos para os produtores encontrarem substitutos para o agrotóxico, que está entre os mais usados no país. Mas, desde então, empresas fabricantes de agrotóxicos e produtores rurais fizeram mais de 20 reuniões na Anvisa para discutir a possibilidade de adiar e até reverter a proibição. A agenda, compilada pela Repórter Brasil e Agência Pública, revela que as maiores multinacionais do setor, como a Syngenta, e representantes dos maiores exportadores do Brasil, como a Aprosoja, foram diversas vezes à agência discutir a pauta específica do paraquate. 

Questionando o modo como a Anvisa responde aos pedidos da indústria, essa não foi a primeira vez que o MPF entrou com ação neste caso. Em março deste ano, a mesma pauta entrou na agenda do órgão regulador, despertando a atenção do procurador Delfino. Na época, a agência divulgou que a discussão sobre o adiamento da proibição do agrotóxico girava em torno das pesquisas ainda não concluídas. Argumentando que a agência só poderia mudar a sua própria resolução quando novos resultados fossem apresentados, ele conseguiu barrar a pauta na justiça. 

Em 23 de julho deste ano, a decisão foi revertida pelo desembargador federal Mairan Gonçalves Maia Júnior, do Tribunal Regional Federal da 3a região, deixando a Anvisa desimpedida de votar sobre o assunto. Nos recursos feitos pela Anvisa dentro do processo, a agência não apenas argumenta pelo direito de colocar o assunto em pauta, mas pela importância do adiamento da proibição. 

A partir daí, as coisas aconteceram rápido. Quatro dias depois da decisão, em 27 de julho, o diretor Romison Mota, atual responsável pelo processo dentro da Anvisa, fez reunião virtual com representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Na pauta: “Avaliação da decisão judicial referente ao ingrediente ativo Paraquate”.  Duas semanas depois, a revisão voltou a entrar na pauta da Anvisa.

Procurado pela reportagem, o MAPA enviou nota afirmando que “considera que a produção de dados oriundos de estudos mais atualizados poderá melhor embasar a decisão sobre a manutenção ou não do banimento do produto. A Anvisa tem competência técnica e legal para avaliar o tema. Portanto, aguardamos a decisão da Anvisa sobre a questão”.

“Vão ficar encomendando e pagando pesquisa até conseguir um resultado que mostre o que realmente eles querem mostrar”, critica Juliana Acosta, militante da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida. A organização, responsável pelo lobby contra o paraquate, dava essa frente como vencida, mas agora volta a acompanhar a movimentação na Anvisa com apreensão. “Não esperávamos que três anos depois tivéssemos que voltar a priorizar uma substância que já concluiu seu processo de revisão. Mais uma pauta que nos exige lutar para não retroceder em debates que considerávamos superados”. 


Esta reportagem faz parte do projeto Por Trás do Alimento, uma parceria da Agência Pública e Repórter Brasil para investigar o uso de Agrotóxicos no Brasil. A cobertura completa está no site do projeto. Reportagem originalmente publicada na Agência Pública 


Por ir ao encontro da linha editorial da REDE HOJE e trazer temas de relevante interesse social, que geralmente são esquecidos pela grande mídia publicamos as reportagens da AGÊNCIA PÚBLICA, com autorização. Tire um tempo e leia as reportagens semanais.Você define o que é importante ou não, mas REDE HOJE aposta, tem certeza que você será tocado pelos textos e vídeos da PÚBLICA que estamos focalizando. Mais uma vez, obrigado pela confiança em nosso trabalho.



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MÍDIA. Estreou nesta sexta no Brasil, Vix Cine e TV, um novo serviço gratuito de streaming

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Criado em Sábado, 15 Agosto 2020 01:08

Estreiou nesta sexta, Vix Cine e TV, primeira plataforma de vídeos on demand  sem cobrar nada de seus usuários, com mais de 1.500 horas de filmes e séries

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A plataforma com filmes, séries e documentários disponíveis de graça.


DA REDAÇÃO DA REDE HOJE
Entrou no ar nesta sexta-feira, 14. um concorrente de peso para os serviços de streaming hospedados no Brasil. É a Vix Cine e TV, primeira plataforma de vídeos on demand que,  sem cobrar nada de seus usuários, traz ao país mais de 1.500 horas de filmes e séries.
 
Como já acontece em países latino-americanos, no México e na comunidade latina que vive nos Estados Unido, no Brasil a monetização se dará por meio de propagandas de 30 segundos exibidas ao dar play no conteúdo. A Vix Cine e Tv chega ao Brasil depois de fazer sucesso com seus títulos de produções em língua espanhola, de acordo com a plataforma.
 
 Rafael Urbina, CEO da VIX, diz que “a expansão da nossa plataforma é um marco em nossos esforços para atender nossos públicos em português e espanhol onde quer que eles estejam. O aplicativo já é o número um de entretenimento no Google Play do México e em outros países da América Latina”, explica.
 
 A Vix terá documentários como “Cidade Cinza”; “Pelé – a Origem” e filmes como “Breaking Through – No Ritmo do Coração”, com Bruna Marquezine e Anitta - estreia em setembro - e um catálogo onde o interessado encontrará filmes e séries de diversos gêneros, além de produções originais da própria Vix.
 
Fonte:  Vix Cine e TV 
 
 

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AFTOSA. Mapa reconhece seis estados como livres de febre aftosa sem vacinação

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Criado em Sexta, 14 Agosto 2020 10:17

Os estados e regiões atenderam requisitos como aprimoramento dos serviços veterinários oficiais e implantação de programa estruturado para manter a condição de livre da doença

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Minas continua livre de febre aftosa sem vacinação. Foto: Claudenil Moraes Nil por Pixabay 


DA REDAÇÃO DA REDE HOJE


O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou nesta sexta-feira (14), no Diário Oficial da União, a Instrução Normativa nº 52, que reconhece como livres de febre aftosa sem vacinação os estados do Acre, Paraná, Rio Grande do Sul e Rondônia. Foram reconhecidas também regiões do Amazonas (Apuí, Boca do Acre, Canutama, Eirunepé, Envira, Guajará, Humaitá, Itamarati, Ipixuna, Lábrea, Manicoré, Novo Aripuanã, Pauini e parte do município de Tapauá) e do Mato Grosso, composta pelo município de Rondolândia e partes de Aripuanã, Colniza, Comodoro e Juína.

 

Para realizar a transição de status sanitário, os estados e regiões atenderam requisitos básicos, como aprimoramento dos serviços veterinários oficiais e implantação de programa estruturado para manter a condição de livre da doença, entre outros, alinhados com as diretrizes do Código Terrestre da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE).

 

panela-1Com o reconhecimento nacional, a ministra Tereza Cristina ressalta que os estados terão a oportunidade de ampliar a participação no mercado internacional. “Mais de 40 milhões de cabeças estarão prontas para exportação para mercados mais exigentes. O Brasil já é livre de aftosa com vacinação, mas esse bloco será livre sem vacinação. E isso deve melhorar o valor dos produtos desses locais para exportar para mercados como Japão, Coreia do Sul, que são mais exigentes e que não aceitam a carne bovina vacinada”, disse.

 

O processo de transição de zonas livres de febre aftosa com vacinação para livre sem vacinação está previsto no Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Febre Aftosa (Pnefa), conforme estabelecido pelo Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa).

 

“O reconhecimento nacional pelo Mapa é um dos passos para alcançar o reconhecimento internacional junto à OIE [Organização Mundial de Saúde Animal]. A expectativa é de termos esse reconhecimento pela organização em maio de 2021 para esses estados”, destaca o diretor do Departamento de Saúde Animal, Geraldo Moraes. De acordo com o diretor, o Mapa encaminha nesta sexta-feira o pleito brasileiro à OIE para o reconhecimento internacional. Esses estados passarão por uma rigorosa avaliação por profissionais indicados pela organização.

 

Atualmente, no Brasil, apenas Santa Catarina possui a certificação internacional como zona livre de febre aftosa sem vacinação. Com isso, o ingresso de animais e produtos de risco para febre aftosa desses seis estados em Santa Catarina deve obedecer às diretrizes definidas para origem em zona livre de febre aftosa com vacinação, até o reconhecimento pela OIE como zonas livres de febre aftosa sem vacinação.

 

A norma entra em vigor no dia 1º de setembro. 



 

REPORTAGEM Tortura em presídio de Uberlândia explode com visitas suspensas por causa da pandemia, afirmam presos

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Criado em Sexta, 07 Agosto 2020 16:13

Familiares e ex-detentos denunciam uso de bombas de gás, agressão física, cortes de água e energia e falta de atendimento médico no Presídio Professor Jacy de Assis 

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Alice Maciel, Laura Scofield da 


Desde o início da pandemia, detentos do Presídio Professor Jacy de Assis, localizado em Uberlândia, no interior de Minas, estão vivendo dias de terror. Pessoas libertadas e familiares de presos relataram à Agência Pública uma rotina que inclui tapas na cara, ataques com balas de borracha e spray de pimenta e punições coletivas, como corte de água e de energia e suspensão do banho de sol. Segundo eles, torturas físicas e psicológicas se intensificaram na unidade depois que as visitas foram suspensas pelo governo do estado, em 20 de março, para evitar a propagação do vírus nas prisões.

 

Quem passa do lado de fora do presídio escuta os gritos de “socorro”, “chega de opressão”, “coronavírus está na cadeia” que ecoam lá de dentro. Os gritos foram gravados por parentes dos presos e enviados à reportagem. Essa foi a forma que os detentos se organizaram para chamar atenção do que está ocorrendo, segundo Bruno*. Preso no início de março, ele saiu da cadeia mês passado.  

 

Áudio dos detentos pedindo socorro ouvidos de fora do presídio

 

“A opressão lá dentro está muito grande mesmo. O GIR [Grupo de Intervenção Rápida] jogou spray de pimenta na minha cara, na minha cara mesmo. Também já soltaram na minha cela bomba de gás lacrimogêneo. Você sente falta de ar, arde o olho, queima tudo. E tem a bomba de efeito moral, também, que eles usam. Ela dá uma explosão e te deixa surdo. É bomba demais”, relatou à reportagem. “Eu apanhei algumas vezes lá. Já vi colega tomar três tiros de borracha no peito”, acrescentou.

 

Gabriel* deixou a cadeia na segunda-feira e contou que viu um colega ajoelhado, só com a roupa íntima, sendo “obrigado a arrancar as unhas com o dente”. “Devido a essa pandemia, eles não dão acesso pra gente de comunicação com a família, a gente vai dar as mãos ali dentro, não adianta vir represália, nada. A gente só quer a luta pelos nossos direitos”, reivindicou.

 

Detentos liberados do presídio recentemente se imbuíram da missão de denunciar os atos de violência praticados pelos agentes e pelo GIR, uma espécie de tropa de choque dos presídios. Pelo menos dez gravaram relatos aos quais a Pública teve acesso, narrando o que viram e vivenciaram na unidade:

 

“Toda vez que eles [GIR] entram pra trancar banho de sol, para abrir banho de sol, tacam gás de pimenta por motivos fúteis.”   

 

“Onde foi detectado coronavírus eles cortaram tudo de nós: banho de sol, sacolinha [kit com comida e produtos de higiene enviado pela família], energia.”

 

“O que eles [agentes] entram falando lá no pavilhão é que [eles] querem que a gente pegue a doença mesmo, que morra, que essa doença veio para exterminar a raça do presidiário.”              

 

Na ala feminina a situação não é diferente, mas, com menos apoio dos familiares do que os homens, as mulheres têm tido maior dificuldade de se organizar para fazer as denúncias. Juliana*, que saiu do presídio na semana passada, revelou que agentes masculinos entram no bloco e chamam as presas de “lixo”. Segundo ela, cachorros entram no pavilhão e o coronavírus está sendo negligenciado na prisão. “Está tendo Covid-19 lá dentro e eles falam que não é”, disse à reportagem.

 

Número de denúncias aumentou 190%

 

Do início da pandemia, em março, a 22 de junho, a plataforma Desencarcera registrou 298 denúncias de violência contra detentos do Presídio Professor Jacy de Assis. Ao todo, foi registrado um aumento de 190% no número de denúncias, passando de um total de 388 para 737, sendo que 40% são contra o presídio de Uberlândia. A plataforma foi criada por organizações da sociedade civil em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Trabalho, Cárcere e Direitos Humanos da Universidade Federal de Minas Gerais para receber denúncias anônimas dos presos e seus familiares.

 

Além de revelarem as agressões físicas e psicológicas sistemáticas, as denúncias mostram a falta de acesso a água, a produtos de higiene básicos, a remédios, exposição ao frio, desassistência médica, suspensão da entrega dos kits enviados pelos familiares por Sedex e punições coletivas.

  

Gabriela* contou à reportagem que alguns presos da unidade, incluindo seu pai e seu marido, passaram dois dias só de cueca, “em uma cela sem nada”. “Desligam a energia, eles ficam igual bicho dentro da cela, no breu”, revelou. Segundo ela, durante visita virtual, seu marido contou que os agentes estavam tirando os colchões e os cobertores deles.

 

A água, de acordo com o ex-detento Breno*, é ligada quatro vezes ao dia por cerca de sete minutos. Nesse tempo, os 21 presos da cela têm que tomar banho, lavar roupa e se hidratar. É proibido armazenar a água em garrafas. “Eu já cheguei a beber água do cocho”, disse. “A gente não consegue ter uma higiene 100% nem com o vírus ali dentro”, manifestou. 

 

As celas não têm televisão nem rádio. A energia, controlada pela direção, normalmente é desligada às 18 horas e religada às 10 horas, segundo os relatos. “Não tem nada pra gente se informar, não dá nem pra ler um livro, uma bíblia, porque a única luz que fica no fundo da cela é igual de farol de trem, dói a cabeça da gente”, observou Diogo*, também ex-detento.

 

Os presos têm direito a apenas dois dias por semana de banho de sol. Mesmo assim, de acordo com Diogo, depende da boa vontade dos policiais do GIR: “Tem vez que eles chegam e excluem uma fila do banho de sol. A gente faz duas filas dentro da cela, uma do lado direito, outra do lado esquerdo. Eles [policiais do GIR] chegam e falam assim: ‘A fila do lado direito pode assentar, vai para o sol, não’. Aí, no outro dia eles excluem de novo. Lá, eles brincam, eles fazem gracinha com a gente”, indignou-se.

 

O GIR foi criado em Minas, em 2012, para dar apoio às equipes dos presídios quando necessário, em situações emergenciais, na “vigilância interna” e controle de “motins, rebeliões e tentativas de fugas”. Para o uso da força, devem utilizar equipamentos de menor potencial ofensivo, para “preservar vidas e minimizar danos à integridade física e moral das pessoas envolvidas”.

 

Conforme os relatos dos ex-detentos e de familiares dos reeducandos, no entanto, não é assim que o GIR tem agido no Presídio Professor Jacy de Assis.

 

As denúncias que apontam para práticas de violações de direitos e de torturas na unidade foram encaminhadas ao Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura – órgão vinculado ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos – pela Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais.

 

Desde 2017, os defensores em Uberlândia registram vários tipos de violência contra os internos no presídio. “Contudo, as violações têm se agravado a partir das medidas adotadas pelo governo estadual diante do novo coronavírus”, destacou o Mecanismo Nacional em ofício encaminhado no dia 1o de julho ao poder público mineiro.

 

A Defensoria Pública de Minas Geriais encontrou cela com 17 pessoas (6 camas) e luz natural no Presídio Professor Jacy de Assis. Foto: Defensoria Pública de Minas Gerais

 

O governador de Minas, Romeu Zema, o secretário-geral de Estado de Justiça e Segurança Pública, general Mario Lucio de Araujo, a superintendente de Direitos Humanos da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedese), Maria Gabriela Diniz, a procuradora-geral de Justiça adjunta institucional do Ministério Público de Minas Gerais, Cássia Virgínia Gontijo, e o presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, Nelson Missias, foram os destinatários do ofício. Até o momento, apenas a Sedese respondeu aos questionamentos do órgão federal.

 

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou à Pública que fez reuniões e está em contato permanente com os defensores públicos de Uberlândia. A reportagem apurou, no entanto, que o primeiro encontro de representantes da pasta com os defensores ocorreu na última terça-feira (4/8). De acordo com a secretaria, ficou acordado que, no prazo de 30 dias, a Sejusp irá verificar a procedência das denúncias e, em caso de confirmação, “tomar todas as medidas cabíveis”.

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No pedido para interdição parcial do presídio, fotos mostram presos vivendo em em celas superlotadas e com ventanas lacradas. Foto: Defensoria Pública de Minas Gerais

 

No pedido para interdição parcial do presídio, fotos mostram presos vivendo em em celas superlotadas e com ventanas lacradas

“A Corregedoria da Sejusp e diferentes áreas do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG) tratam com prioridade o assunto, respeitando o direito à ampla defesa e ao contraditório dos envolvidos”, acrescentou a secretaria por meio de nota.

 

Três mortes em um mês

 

Só no mês de julho, três reeducandos do Presídio Professor Jacy de Assis morreram em um espaço de nove dias. O jovem Cláudio Gonçalves Goes Filho, de 22 anos, morreu no dia 24. A causa ainda está sendo apurada. Cinco dias depois, José Jovelino Duarte, de 54 anos, faleceu por causa da Covid-19 e, no dia 31, Jorge Alves Pereira, de 67 anos, foi vítima de um infarto. Em junho, um detento se suicidou.

 

“Os últimos óbitos trazem uma perspectiva, no mínimo, de uma negligência no atendimento em saúde das pessoas que vieram a óbito, independente da causa de Covid”, avaliou o perito do Mecanismo Nacional, Daniel Melo.

 

A reclamação sobre a falta de assistência médica e de profissionais de saúde para atender os 1.800 presos é unânime nos relatos dos ex-detentos e dos familiares de presos da unidade.

 

Carlos foi um dos três presos que morreu no mês de julho. Foto: Arquivo pessoal

 

Sem especificar quais profissionais da saúde trabalham no presídio, a Sejusp informou que a unidade possui equipe de saúde “idêntica” à do Programa Saúde da Família (PSF). O PSF conta com uma equipe composta por no mínimo um médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem e agentes comunitários de saúde.

 

Mas, segundo José*, “só na voz para conseguir assistência médica” lá dentro. “Tem que juntar o pavilhão de cima e o pavilhão de baixo pra chamar. Só desse jeito que eles vêm”, explicou.

 

No dia 2 de junho, uma detenta colocou fogo no colchão para solicitar atendimento médico. Ela estaria sentindo dores por causa de pedra nos rins, conforme apurou a reportagem.

 

Foi também com grito de socorro que os presos tentaram avisar que Cláudio estava passando mal, por volta das 10 horas da noite. De acordo com relatos de outros presos e de familiares que moram ao redor da unidade, os agentes só chegaram na cela onde o jovem estava por volta de 1h30 da manhã. No atestado de óbito, consta que ele morreu às 2 horas da manhã. 

 

“Conforme eu fiquei sabendo, teve um momento que um agente foi lá na porta, viu ele passando mal e falou que não era nada”, contou Eliane Domingues de Moura, mãe de Cláudio.

 

Segundo ela, a causa da morte no atestado de óbito do filho foi registrada como indefinida. “Ele não tinha nenhum problema de saúde, era uma pessoa saudável”, disse Eliane. “Eu acho que é muita negligência, muita falta de respeito com todos lá. Eles acham que o preso tem que morrer. Eles não respeitam nem a família dos presos, eles são muito desumanos”, lamentou.

 

Eliane recebeu uma carta do filho uma semana antes de falecer. Nela, Cláudio dizia que estava tudo bem e que tinha planos para quando saísse da cadeia, como cuidar da família e da filha de 4 anos.

 

A cela dos isolados

 

Com liberdade provisória porque contraiu coronavírus, Júlio* contou à Pública que, antes de ser solto, passou três dias no pavilhão dos “isolados”, o seis, que “está funcionando como bloco rotativo”. Ele fez o teste em 19 de julho e saiu do presídio no dia 23.

 

É para lá, segundo ele, que são encaminhados os detentos doentes com tuberculose ou que contraíram coronavírus, por exemplo. No entanto, Júlio disse que os presos novos que estão chegando na cadeia em meio à pandemia também estão sendo trancados nesse local, até serem realocados. “Ou seja, eles estão convivendo também com as pessoas doentes. Aí propaga a doença no presídio”, disse.

 

O pavilhão conta com 86 celas sem nenhuma iluminação, segundo ele. “Não tem luz lá dentro, tem alguns banheiros que estão quebrados. A situação lá está precária, não tem condições de nenhum preso se recuperar fisicamente da doença lá nesse lugar. As celas são muito frias, às vezes tem infiltração, vazamento de água. Até mesmo se a pessoa pedir um socorro ali não tem jeito porque fica muito isolado”, relatou Júlio.

 

Segundo a Sejusp, até às 10 horas da última quarta-feira (5/8), oito presos tinham testado positivo para Covid-19 na unidade. “Eles estão assintomáticos ou com sintomas leves da doença e são acompanhados pela equipe de saúde da unidade prisional. A ala em que se encontram foi isolada, desinfectada e todos servidores e demais detentos do local usam máscaras de forma preventiva”, informou o órgão.

 

Familiares de presos relataram à reportagem que há detentos com sintomas que não estão sendo testados. “Meu marido foi ao atendimento de saúde porque estava dando falta de ar e dor no peito. Ele não fez nenhum exame, não foi testado. Mas ele teve esses sintomas, foi há uma semana”, contou Clarice*, mulher de um dos presos.

 

O primeiro caso de Covid na unidade foi detectado em policial penal, em maio. Ele foi afastado e se fez teste em toda a sua equipe. No dia 25 de maio, foi registrado o primeiro caso da doença entre os detentos.

 

*Usamos nome fictício para preservar a identidade dos ex-detentos e de familiares dos presos.

 

Reportagem publicada originalmente pela Agência Pública


Por ir ao encontro da linha editorial da REDE HOJE e trazer temas de relevante interesse social, que geralmente são esquecidos pela grande mídia publicamos as reportagens da AGÊNCIA PÚBLICA, com autorização. Tire um tempo e leia as reportagens semanais.Você define o que é importante ou não, mas REDE HOJE aposta, tem certeza que você será tocado pelos textos e vídeos da PÚBLICA que estamos focalizando. Mais uma vez, obrigado pela confiança em nosso trabalho.


 


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IMPOSTOS. Projeto “Simplifica já” é uma das melhores alternativas para reforma tributária pós Covid-19

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Criado em Terça, 28 Julho 2020 19:55

O projeto é a opção imediata com maiores benefícios para toda sociedade diminuindo as quase 6 mil legislações tributárias atuais para apenas 4

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Da redação da Rede Hoje


O projeto "Simplfica Já" é uma das boas opções imediatas com maiores benefícios para toda sociedade, contribuindo para a retomada rápida e segura do crescimento econômico, diminuindo as quase 6 mil legislações tributárias atuais para apenas 4.

 

Proposta de reforma tributária simplificada, apartidária e construída por técnicos é a melhor alternativa para a retomada da economia pós pandemia. O “Simplifica já” propõe diminuir a quantidade das quase 6 mil legislações tributárias para apenas 4, sem trazer o risco de perdas que as PEC 45 e 110 (propostas que tramitam hoje no Congresso) trazem para os agentes envolvidos, principalmente a sociedade e contribuintes.

 

Para Alberto Macedo, Doutor em Direito Tributário pela USP e Consultor Técnico da ANAFISCO, entidade responsável pela criação do “Simplifica já” em parceria com a ABRASF, “um dos maiores problemas das PECs 45 e 110, que tramitam hoje no congresso, é a transição com duplicidade de sistemas, mantendo-se as regras complexas dos milhares de impostos hoje existentes com o novo e incógnito sistema do IBS, imposto único que propõe substituir os outros, baseando-se em projeções estimadas, e não em dados de economia real”.

 

“A praticidade do ‘Simplifica já’ confere rapidez de implementação sem a absurda duplicidade de sistemas tributários por vários anos”, afirma Alberto. Cássio Vieira, Presidente da ANAFISCO, por sua vez, acrescenta que “além disso, com o “Simplifica já” , os milhares de ISS municipais seriam unificados em 1 ISS nacional, com as obrigações acessórias também padronizadas em resoluções do Comitê Gestor Nacional do ISS. E essa mesma lógica de simplificação se aplica com relação as atuais 27 legislações do ICMS nos Estados. Na esfera federal, a PIS e a COFINS darão lugar a uma única contribuição sobre o valor adicionado federal, e o 

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IPI seria um imposto meramente seletivo. A carga da contribuição patronal previdenciária (CPP) incidente sobre a folha de salários será reduzida para as empresas que mais empregam e que possuem maior massa salarial, aliviando a pressão sobre essas empresas”. 

 

“O “Simplifica já” , além de trazer benefícios imediatos para a sociedade, propicia uma divisão equilibrada dos resultados, sem perdas ou ganhos excessivos entre os setores econômicos e entre os entes federados envolvidos, ao contrário do que acontece com as duas PECs (45 e 110) hoje em debate no Congresso Nacional”, conclui Alberto.

Para entender melhor, veja o vídeo:

 


 

 
 
 
 
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CIÊNCIA. Pesquisadores da UFMG identificam quatro drogas com potencial para combater o coronavírus

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Criado em Terça, 21 Julho 2020 11:28

Professora participou do trabalho com estudo baseado no uso de ferramentas de biologia de sistemas; vermífugos ivermectina e nitazoxanida não passaram nos testes

Imagem de PublicDomainPictures por Pixabay

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 Por Ewerton Martins Ribeiro para Rede Hoje


Um grupo de dez pesquisadores de diferentes instituições, entre elas a UFMG, identificou quatro drogas – brequinar, acetato de abiraterona, extrato de Hedera helix e neomicina – com potencial para inibir a infecção causada pelo novo coronavírus. 

No estudo, que pode ser conhecido no preprint Discovery of clinically approved drugs capable of inhibiting Sars-CoV-2 in vitro infection using a phenotypic screening strategy and network-analysis to predict their potential to treat covid-19, os pesquisadores analisaram 65 compostos químicos, por meio de testes in vitro, realizados em culturas de células vivas, e in silico, feitos por meio de simulação computacional.

A participação da UFMG ocorreu justamente nas pesquisas in silico, desenvolvidas com o uso de enormes bancos de dados de informações extraídas da literatura biológica, publicadas ao longo de anos em todo o mundo. 

Uma das autoras do estudo, a professora Ludmila Ferreira, do ICB, foi a responsável por essa parte da investigação. Ela coordena o Laboratório de Biologia de Sistemas de RNA. “O mapeamento das intrincadas interações das drogas com os sistemas biológicos do corpo humano e do vírus indica como as substâncias encontradas como eficazes nos testes in vitro poderiam atuar no sistema biológico”, explica. 

Atividade antiviral potente e seletiva

No preprint, os medicamentos brequinar e acetato de abiraterona foram identificados “com atividade antiviral potente e seletiva” contra o Sars-CoV-2, projetando-se como uma interessante possibilidade. Já os medicamentos extrato de Hedera helix e neomicina foram avaliados como “com atividade antiviral moderada”, o que também gerou expectativa positiva nos pesquisadores. 

Em razão disso, eles sugerem que esses quatro medicamentos merecem “ser mais explorados como adjuvantes terapêuticos” no tratamento da covid-19 e/ou como ponto de partida para a elaboração de novos medicamentos para a doença. Ou seja: devem motivar, agora, investigações em estudos pré-clínicos e clínicos, para que se avalie se os resultados alcançados in vitro e in silico se repetirão com seres vivos. 

Ivermectina e nitazoxanida matam o vírus, mas também a célula

A ivermectina e a nitazoxanida, drogas com ação antiparasitária que chegaram a ser associadas no Brasil ao combate à covid-19, também foram investigadas no estudo. Os pesquisadores confirmaram que elas “não são seletivas” como tratamento para a doença, pois só teriam ação antiviral contra o coronavírus em uma concentração inviável de ser ministrada em humanos. 

Nos testes realizados, as duas drogas até chegaram a eliminar o coronavírus das amostras, mas apenas em concentrações que também mataram as células que tentavam salvar. Com isso, o estudo demonstrou que é inviável mobilizá-las para o tratamento da covid-19 em humanos na concentração que seria necessária. 

Biologia de sistemas

O trabalho de Ludmila Ferreira na pesquisa foi justamente o de descobrir, com ferramentas computacionais, como as drogas encontradas com atividade boa, seletiva e eficaz in vitro se integrariam em um sistema biológico complexo como o humano – ou seja, identificar quais moléculas do corpo humano essas drogas iriam regular. 

“Para buscar essas informações, eu construí redes de interação entre essas drogas e o transcritoma [conjunto completo de RNAs transcritos de um dado organismo em um dado momento] humano e, por meio de um software, fiz a predição de como essas drogas terão efeito no organismo após sua administração”, explica a pesquisadora. 

Essa procura, segundo ela, é feita em um banco de dados que reúne milhões de moléculas já descritas na literatura biológica. "Ao fazer esse cruzamento, o programa consegue predizer, por exemplo, se a droga vai inibir a replicação viral, a inflamação, a apoptose (tipo de morte celular) etc.”, exemplifica. 

Segundo Ludmila Ferreira, construir uma rede gênica é relativamente fácil para quem sabe trabalhar com bioinformática, mas isso não é o mais importante em uma investigação in silico. “O mais importante é o trabalho do pesquisador, que deve saber como filtrar os dados fornecidos pelo computador para avaliar a sua relevância ou não para a especificidade da doença que se está estudando”, explica. “Para isso, são muitas noites sem dormir”, brinca. 

In vitro, in silico, pré-clínico, clínico

Testes e análises in vitro e in silico integram a primeira de três grandes etapas cumpridas pelas pesquisas científicas da área da saúde. Ao apresentarem resultados promissores nessa fase inicial, as drogas passam a ser testadas em animais de laboratório, como camundongos. São os chamados testes pré-clínicos, a segunda etapa das pesquisas. 

Quando apresentam resultados promissores nesse segundo estágio, as drogas são liberadas para avaliação em humanos, nos chamados testes clínicos, que constituem a terceira fase da pesquisa. É só quando apresentam resultados promissores também nessa fase que as drogas são direcionadas para o tratamento das doenças para as quais estavam sendo pesquisadas. 

Ocorre, no entanto, que, na maioria das vezes, os resultados positivos alcançados nos testes in vitro não se confirmam até as últimas etapas do processo de análise, ficando em algum momento pelo caminho. “Daí a importância de se aliar os testes in silico aos in vitro. Dessa forma, a triagem inicial de drogas com potencial para se tornarem remédios se torna mais eficiente, e a pesquisa sobre os medicamentos avança já com mais chances de terem resultados positivos também nos testes com seres humanos”, explica Ludmila Ferreira. 

Além de coordenadora do Laboratório de Biologia de Sistemas de RNA do ICB, Ludmila Ferreira integra o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCT Vacinas), do CNPq, e o CT Vacinas, centro de pesquisas em biotecnologia instalado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-TEC), uma parceria da UFMG com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Minas).


 

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REPORTAGEM. Investigamos o lobby para liberar um agrotóxico proibido e letal

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Criado em Quinta, 16 Julho 2020 01:17

Pressão sobre a Anvisa pretende evitar proibição marcada para setembro

Charles Echer|Pixabay 

SOJA-PLANTIO Por Ana Aranha, Hélen Freitas, Agência Pública/Repórter Brasil


Na reta final para a proibição de um dos agrotóxicos mais letais do mundo, o paraquate, a indústria aumentou para a potência máxima o lobby em sua defesa no Brasil. Ele passa a ser banido em setembro deste ano, segundo resolução da Anvisa publicada em 2017 e ancorada em evidências de que a exposição ao produto pode gerar mutações genéticas e a doença de Parkinson. 

Agrotóxico largamente utilizado nas plantações de soja, basta um gole para tirar a vida. Foi criado pela Syngenta, empresa de origem suíça recentemente comprada por um grupo chinês, mas está banido em toda a União Europeia e na China, onde é produzido apenas para exportação.

A artilharia em defesa do produto é robusta. Desde sua proibição em 2017, foram mais de vinte reuniões na Anvisa com as maiores multinacionais do setor, como a Syngenta, e representantes dos maiores exportadores do Brasil, como a Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja). A agenda, compilada pela Repórter Brasil e Agência Pública, revela a coincidência entre as reuniões e algumas das principais decisões da agência reguladora. A frente financia pesquisas, ações na justiça, faz lobby nos ministérios e Congresso.

Neste momento, os atores estão alinhados em torno de um argumento central: a proibição deve ser adiada até que novos estudos fiquem prontos. Estudos financiados pela indústria que fabrica e lucra com o paraquate.

“Você já foi para o Mato Grosso? Lá é o Brasil que deu certo, é impressionante a pujança do agro brasileiro”, afirma Angelo Trapé, responsável pela pesquisa paga pela Aprosoja. Professor aposentado da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, ele é transparente em relação ao seu entusiasmo pela segurança do paraquate. “O contato do trabalhador que faz a pulverização é nulo. É tudo mecanizado, trator fechado, vedado”.

Os pesquisadores coletaram amostras de urina de trabalhadores antes, durante e três dias depois da aplicação do produto. “Vamos testar se o trabalhador da soja, aquele que usa tecnologia e proteção, tem algum resíduo de paraquate na urina. Se não tiver, como podemos explicar a decisão da Anvisa que vai proibir o produto?”, questiona o pesquisador.

Trapé garante que o interesse do financiador não influenciará nos resultados da pesquisa, que está sendo conduzida em laboratório da Unicamp com o aval do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade. Questionado pela reportagem, o comitê informou que “em relação ao conflito de interesse, foi apresentada uma declaração do patrocinador atestando não haver conflito de interesses na execução desta pesquisa”.

 O paraquate é um herbicida altamente perigoso. Foto: Alam Ramírez Zelaya

O comitê de ética da universidade, porém, não dá aval para a metodologia da pesquisa como um todo, ele avalia apenas o risco envolvido na participação dos trabalhadores, afirma João Ernesto de Carvalho, diretor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp, onde fica o laboratório em que a pesquisa está sendo realizada. “É complicado quando o financiador tem interesse no resultado, você precisa controlar as condições em que o estudo é realizado, não é o caso dessa pesquisa”, questiona.

O estudo também é criticado por testar apenas situações que seguem o protocolo ideal de segurança. “Não somos inocentes para acreditar que todos os produtores de soja têm tratores de cabine fechada, não é essa a realidade de todo o campo brasileiro”, afirma o procurador federal Marco Antônio Delfino de Almeida, que atua no Mato Grosso do Sul e teve acesso às informações preliminares sobre a pesquisa.

O procurador foi o responsável por detectar movimentação dentro da Anvisa em março deste ano, quando o pedido da indústria para adiar a proibição foi colocado em pauta em uma reunião da diretoria da agência.

Ele conseguiu uma liminar na justiça proibindo a Anvisa de fazer mudanças na data de proibição antes da conclusão das pesquisas. “Não podemos aceitar esse argumento do ‘aprova aí e depois eu apresento’. Não é assim que funciona”, afirma o procurador.

A reunião aconteceu no dia 31 de março, mas apenas para discutir outros assuntos, já que a Anvisa estava impedida de deliberar sobre o banimento do paraquate.

Procurada pela reportagem e com dez dias para responder às questões enviadas, a Anvisa não retornou. Em nota técnica enviada à justiça sobre o caso, a agência argumentou que a sua resolução sobre a proibição deixara aberta a possibilidade de serem apresentadas novas evidências. E que a indústria manteve a agência sempre informada sobre os atrasos nas pesquisas. “Entende-se, pelo princípio da razoabilidade, que esta Agência deveria avaliar a concessão de prazo adicional solicitada”, conclui a nota (leia na íntegra).

Procurada pela reportagem, a Aprosoja, financiadora da pesquisa, afirmou que “não está se manifestando sobre o processo envolvendo a liberação do paraquate”.

Atraso providencial

A Anvisa começou a reavaliação do paraquate em 2008. Em 2015 o órgão promoveu uma consulta pública sobre a proibição, quando recebeu milhares de contribuições. Por que, então, os estudos não foram feitos antes?

Assim como os produtores de soja, as fabricantes de agrotóxicos também estão financiando uma nova pesquisa sobre o paraquate e ela também está atrasada. O estudo vai testar a sua capacidade de provocar mutação nos genes de ratos de laboratório no Covance Laboratory, na Inglaterra. Os resultados só devem ficar prontos depois de setembro, data da proibição no Brasil.

Em ambos os casos, o atraso das pesquisas é usado como principal argumento para adiar a data do banimento.

“Sim, houve um atraso, mas é preciso entender a sazonalidade da cultura da soja”, afirma Elaine Lopes Silva, vice-coordenadora da chamada “Força-Tarefa Paraquate”, grupo formado por 12 empresas fabricantes de agrotóxicos, entre elas as multinacionais Syngenta e a Adama. É essa força-tarefa que está financiando a pesquisa na Inglaterra.

Foto: Pedro Biondi/Repórter Brasil

Segundo Silva, a demora se deve às dificuldades em definir o formato que o estudo deveria ser feito, achar um laboratório capaz e conciliar a agenda da pesquisa com o tempo da safra da soja. “No primeiro momento em que vimos que esse atraso aconteceria, nós comunicamos e a Anvisa se mostrou bastante aberta”, afirma. “Ela se comprometeu a levar isso [adiamento] para discussão”.

A reportagem teve acesso a quatro pedidos oficiais feitos pela indústria para adiar o prazo de proibição. O mais ousado deles foi feito ainda em 2019, quando a força-tarefa tentou ganhar mais dois anos de vendas no Brasil. Em vez de setembro de 2020, eles solicitaram empurrar o prazo da proibição para novembro de 2022.

Como o pedido não foi concedido, novas solicitações foram feitas para adiar para julho de 2021. Todas protocoladas na Anvisa antes de qualquer atraso provocado pela pandemia.

Indústria vai à Anvisa

Meses antes da reunião do dia 31 de março (quando a Anvisa pretendia deliberar sobre adiar a proibição, mas foi impedida pela justiça), estava intensa a agenda de encontros com representantes da indústria e outros atores do processo. A reportagem detectou seis reuniões na agenda oficial dos diretores da agência sanitária com o tema específico do paraquate só em outubro e novembro de 2019.

Apenas nestes dois meses, há quatro encontros na Anvisa com a Syngenta e sua força-tarefa, três deles para tratar do paraquate.

Procurada pela reportagem, a Syngenta enviou nota afirmando que “reconhece a autonomia e seriedade da Anvisa para regular o uso dos defensivos agrícolas”. E que a sua força-tarefa “valoriza e apoia os esforços da Anvisa em conduzir uma avaliação abrangente, que sempre deve considerar a importância agronômica e econômica do paraquate para a agricultura brasileira, sem prejuízo da segurança e saúde dos agricultores e consumidores” (leia aqui a nota na íntegra).

Arte: Marco Vergotti/Repórter Brasil

A sequência de reuniões em outubro e novembro culmina com um encontro entre o diretor Renato Porto, então responsável pelas decisões sobre a proibição do agrotóxico, com a bancada ruralista e representante da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) no dia 5 de novembro. Na pauta, o paraquate.

O comitê de Ética da Unicamp deu seu aval à pesquisa pouco mais de um mês depois, no dia 11 de dezembro. Embora ele tenha autonomia da comissão nacional, a reportagem procurou a Conep para entender porque o seu coordenador geral se deslocou até a Anvisa para falar sobre o paraquate justamente neste período. A instituição afirmou apenas que “não aprovou protocolo de pesquisa envolvendo o paraquate” e não respondeu sobre o que foi discutido nas reuniões.

Segundo a nota técnica da Anvisa, a agência afirma que a “aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa” foi uma das dificuldades encontradas pela indústria que contribuíram para atrasar as pesquisas. “No caso da Conep, vale salientar que a própria Anvisa procurou auxiliar o processo, realizando interlocução com aquela Comissão, com vistas a esclarecer o propósito do estudo de biomonitoramento”, diz o documento, em referência direta à pesquisa conduzida na Unicamp.

Os encontros da indústria na agência voltaram a acontecer neste ano, com reuniões específicas sobre o paraquate com a Syngenta e a bancada ruralista em fevereiro e março. No final de março, a revisão do prazo de banimento entrou na pauta da reunião da diretoria colegiada da Anvisa, soando o alerta do Ministério Público Federal.

Estudos mostraram associação direta do paraquate com doenças graves, mutação no material genético e doença de Parkinson. Foto: Pedro Biondi/Repórter Brasil

Depois que o MPF entrou na história, a agência teve de se manifestar dentro do processo. Os documentos enviados, aos quais a reportagem teve acesso, sugerem que a agência estava inclinada a ceder aos pedidos da indústria.

A Advocacia-Geral da União entrou no processo para defender o direito da Anvisa em debater o assunto. Mas acabou fazendo uma longa argumentação sobre o mérito, deixando claro uma posição favorável ao adiamento. O “efeito indesejado, gravíssimo e imediato” da proibição, lê-se na manifestação, “significará perda de competitividade internacional do produto brasileiro frente aos demais players do mercado de grãos” (leia o documento completo).

Lobby no Congresso

Depois que o MPF amarrou as mãos da Anvisa, o lobby parece ter tomado uma ação desesperada no Congresso. Na mesma semana no início de julho, um deputado e um senador da bancada ruralista entraram com projetos pedindo a total suspensão da resolução da Anvisa, o que teria o efeito de liberar o paraquate no país.

Por meio de Projetos de Decreto Legislativo com redação idêntica na Câmara e no Senado, afirmam que a decisão de banir o agrotóxico “fundamentou-se a partir de viés político e não de uma decisão científica”.

O avanço no Congresso também ocorreu em sintonia com a agenda de reuniões na Anvisa. Uma delas foi em 29 de junho, um dia antes do projeto ser protocolado na Câmara pelo deputado Luiz Nishimori (PL/PR). Uma semana depois, foi a vez do senador Luis Carlos Heinze (PP/RS) propor um projeto de igual teor.

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Deputado Luiz Nishimori (PL/PR) é autor do PDL 310/2020 que pede a suspensão da resolução da Anvisa. Foto: Câmara dos Deputados

Em 8 de julho, mesmo dia em que representante da bancada ruralista se reunia com a Anvisa para tratar da “modernização do processo de reavaliação dos pesticidas pela Anvisa”, um grupo de deputados da bancada entrou com requerimento de urgência para votar o projeto de Nishimori, argumentando pelo “risco de desabastecimento e de graves impactos na economia do País”.

Economia X vidas

Assim como ocorre com a pandemia, o debate sobre agrotóxicos cai na “polarização” vida versus economia.

Segundo um experiente lobista do agronegócio, o seguinte argumento será martelado em defesa do paraquate nos próximos meses: “Num momento em que a economia está fragilizada, será uma irresponsabilidade tirar uma tecnologia fundamental para a produtividade da agricultura brasileira”. Alguns dos números divulgados pela bancada ruralista são aterrorizadores. Segundo estudos apresentados por eles, a proibição do paraquate eliminaria dois milhões de empregos, reduzindo R$ 25 bilhões em geração de renda e R$ 4,7 bilhões em arrecadação de impostos.

Esses números estão superestimados na opinião do agrônomo e professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Antonio Alberto da Silva. Segundo ele, já existem agrotóxicos para substituir o paraquate sem inviabilizar a produção. “É um produto importante, mas não vai causar prejuízo tão grande. Há alternativas”.

Ele argumenta que há uma lista de opções com preços distintos e eficiência um pouco inferior. O principal é o Diquat, que pode ser encontrado no Rio Grande do Sul a R$ 32 por hectare, mesmo preço do paraquate no estado.

A informação é contestada pela vice-presidente da “força-tarefa” em defesa do paraquate. Segundo Elaine Silva, o produto só pode ser substituído por uma combinação de até três agrotóxicos diferentes, o que encarece o tratamento. Ela argumenta ainda que a nova mistura de substâncias pode ser pior para o trabalhador, pois ainda não se conhece os seus efeitos.

O maior diferencial do paraquate é combater plantas daninhas que já adquiriram resistência a outros agrotóxicos. Além de seu uso no processo chamado de “dessecagem”, quando o agrotóxico é usado para antecipar a colheita da soja e padronizar a maturação dos grãos.

Este é uso mais comum e o que oferece maior risco para a contaminação humana. Se não for respeitado o momento certo da aplicação, assim como o intervalo entre a aplicação e a colheita, o agrotóxico fica na vagem e pode deixar resíduos até no grão – que será consumido por homens e animais.

“Seguindo todas as recomendações técnicas, o produto não chega no grão, mas ele fica na vagem”, afirma o agrônomo Silva da UFV. “Durante a colheita, a poeira que sai libera o paraquate”.

Os especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que os protocolos de segurança para uso da substância são complexos e de difícil execução. As roupas de proteção, extremamente quentes, são um dos exemplos de como algumas medidas são impraticáveis no centro-oeste do Brasil, afirma o procurador Leomar Daroncho, do Ministério Público do Trabalho em Goiás.

O paraquate tem a mais alta classificação toxicológica no país: extremamente tóxico. A ingestão ou inalação causa necrose nos rins e em artéria do pulmão e danos às células do fígado. Durante o debate para a sua proibição na Europa, o agrotóxico foi investigado durante 9 anos pelo Centro de Controle de Intoxicações em Marselha, na França. Os estudos investigaram 15 mortes, sendo que 10 ocorreram nas primeiras 48 horas após a ingestão. A rapidez se deve à falência de múltiplos órgãos, entre outras complicações.

Mas os efeitos da intoxicação, na maioria dos casos, não são imediatos. São doenças que só vão se manifestar ao longo do tempo. Assim, a maioria dos trabalhadores não associa as consequências da contaminação ao produto, alerta o procurador do trabalho Daroncho. Por isso, ele diz, quase não existem casos de condenação de empresas por intoxicação.

Estoque para uso ilegal?

Mesmo com a chegada da proibição do agrotóxico para setembro, os produtores rurais continuaram comprando o paraquate para uso na safra do ano que vem. Essa informação está na manifestação da AGU na ação movida pelo MPF. A advocacia afirma que os agricultores anteciparam as compras do paraquate devido à alta do dólar. Assim, a AGU argumenta pelo adiamento da proibição para evitar prejuízo: “os agricultores que já estão com produtos a base de paraquate nas fazendas para uso na próxima safra deverão trocar os produtos ou mesmo poderão perder os herbicidas, aumentando o custo de produção”.

O argumento soou estranho o agrônomo e professor da UFV. “Fizeram uma compra muito antecipada de um produto que há três anos já sabiam que ia sair do mercado a partir de setembro”, afirma Silva.

Sinal preocupante de que os produtores não pretendem parar de utilizá-lo mesmo depois da proibição é o aumento no volume de importação. Em 2017, quando a Anvisa decidiu pela proibição, eram 35 mil toneladas de paraquate entrando no Brasil. Depois da decisão, o volume de importação subiu para 50 mil em 2018 e 65 mil em 2019. Os dados são do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços no portal Comex Stat. O aumento segue a tendência do mercado no Brasil.

Se o lobby vai surtir efeito e conseguir adiar ou até derrubar a proibição, a vice-coordenadora da “Força-Tarefa Paraquate” diz ainda não ter resposta. E brinca: “essa é a pergunta de um bilhão de dólares”.

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública


 Por ir ao encontro da linha editorial da REDE HOJE e trazer temas de relevante interesse social, que geralmente são esquecidos pela grande mídia publicamos as reportagens da AGÊNCIA PÚBLICA, com autorização. Tire um tempo e leia as reportagens semanais.Você define o que é importante ou não, mas REDE HOJE aposta, tem certeza que você será tocado pelos textos e vídeos da PÚBLICA que estamos focalizando. Mais uma vez, obrigado pela confiança em nosso trabalho.

 


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REPORTAGEM DA SEMANA. Pequenas cidades brasileiras têm mais de 10 mil mortes por coronavírus

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Criado em Sábado, 11 Julho 2020 20:18

Quase metade dos municípios com menos de 100 mil habitantes já registra mortes por Covid-19; maioria não tem sequer um leito de UTI e depende de cidades maioresmanchete


Por Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Rute Pina | Fotos: Bruno Fonseca  


Longe das capitais e grandes cidades, o novo coronavírus tem avançado pelo interior do Brasil, causando a morte de milhares de brasileiros. A partir de dados do Ministério da Saúde a Agência Pública apurou que, até o dia 6 de julho, mais de 10 mil pessoas morreram por Covid-19 em municípios com menos de 100 mil habitantes. Ao todo, mais de 2.500 cidades desse porte registraram pelo menos uma morte causada pela doença, isto é, quase metade dos municípios brasileiros com população menor que 100 mil habitantes.

As mortes por Covid-19 nessas pequenas cidades podem ser explicadas em parte pela falta de estrutura em saúde. Segundo levantamento da Pública, entre esses municípios, 80% não possuíam sequer um leito em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) antes da pandemia – e 78% seguiram sem UTIs até o mês de maio, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Cerca de 88 milhões de brasileiros, mais de um terço da população do país, vivem em municípios com menos de 100 mil habitantes.

Um dos municípios mais afetados é Tabatinga, cidade com cerca de 65 mil habitantes no extremo oeste do Amazonas, próximo à fronteira com o Peru e a Colômbia. Apesar da pequena população, Tabatinga já registrou 75 mortes por Covid-19, o que a colocou entre os dez municípios com menos de 100 mil habitantes com mais mortes em relação à população. Para se ter uma ideia, a média de mortes por população em Tabatinga é 1,8 vez a da cidade de São Paulo e 3,6 vezes a do Brasil.

Foi em Tabatinga que Gabriela Acosta perdeu seu pai, depois de ter aguardado por quatro dias a transferência para uma UTI em Manaus. Felix José Acosta, comerciante, foi internado por complicações causadas pela infecção pelo novo coronavírus no Hospital de Guarnição Militar, em Tabatinga. Segundo a filha, após a piora no quadro – inclusive com necessidade de hemodiálise –, a família aguardava a transferência para um hospital na capital, que precisaria ser feita por avião ou helicóptero. Tabatinga está a mais de mil quilômetros de distância de Manaus, uma viagem que pode levar duas horas de avião ou três dias de barco.

A promessa não cumprida da transferência levou Gabriela a publicar uma denúncia em seu Facebook pedindo que seus amigos compartilhassem seu relato. “Este é um apelo e uma denúncia pelos seus, pelos meus, para que não sejam ignorados para que não tenhamos que nos conformar com tantas perdas e descaso público com a vida”, disse em 14 de maio. No dia seguinte, seu pai faleceu.

Em entrevista à Pública, Gabriela relatou a evolução do estado de saúde de seu pai. “Meu pai foi pra UPA da cidade no dia 3 de maio, com tosse, dor no peito e saturação [de oxigênio] muito baixa. Ficou por dois dias lá e depois foi encaminhado ao Hospital de Guarnição [de Tabatinga]. O quadro era estável e ele não tinha diabetes, hipertensão e nem asma. Dia 7 foi entubado, sem mesmo consultar a família; já que o quadro dele era estável não tinha necessidade, mas falaram que era pra ajudar na falta de ar. No dia seguinte informaram que iriam transferi-lo para Manaus, pois o tratamento seria melhor.”

Lousiana, irmã de Gabriela e também moradora de Tabatinga, acompanhou o caso mais de perto, enquanto cuidava de sua mãe, infectada pelo novo coronavírus e hospitalizada na UPA da cidade. Ela recebia boletins diários sobre Felix José, acompanhava o tratamento com hidroxicloroquina e anticoagulantes e chegou a ir algumas vezes ao hospital com as malas para o voo do pai para Manaus, que não aconteceu.

“No dia 12 recebi um novo boletim. A médica falou que meu pai só tinha alguns dias de vida, que o rim dele tava quase parando e que tinha que levar ele urgentemente para Manaus. Eu disse ‘por que vocês esperaram ele chegar nessa situação pra dizer que era urgente? Tá com essa história de levar ele para Manaus desde o dia 7 e deixaram passar todos esses dias com a situação de meu pai se agravando’”, conta Lousiana. Pacientes que deram entrada no Hospital de Guarnição depois de Felix foram transferidos para a capital antes dele. Os critérios para a ordem de transferência não foram informados à família. “Por que estavam deixando o meu pai? Esqueceram dele, entendeu?”

No Mato Grosso, prefeitura da cidade de Cárceres espalhou faixas pedindo que moradores fiquem em casa, pois a cidade não tem leitos de UTI.

No interior de São Paulo, cidade sem UTI tem maior número de mortes por população do país

Assim como ocorreu em Tabatinga, moradores de municípios pequenos que desenvolveram quadros graves da Covid-19 e precisaram de internação foram obrigados a se deslocar para cidades maiores – muitas delas distantes ou com sistemas de saúde já sobrecarregados. De acordo com os dados do Ministério da Saúde, das dez cidades com menos de 100 mil habitantes que tiveram mais mortes por Covid-19, metade não tinha sequer um leito de UTI. E apenas em Manacapuru (AM) havia leitos de UTI destinados exclusivamente ao tratamento de pacientes com coronavírus.

A Pública já havia revelado que no interior do Brasil há uma série de “desertos de UTIs”, regiões onde há poucos ou nenhum leito do tipo para internar pacientes em estado grave. Mesmo considerando regiões de saúde – que incluem municípios vizinhos –, metade das regiões do país não possuía o mínimo de UTIs por habitante recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) antes da pandemia.

No interior de São Paulo, a cidade de Gastão Vidigal é um exemplo de município que depende da estrutura das cidades vizinhas. A cidade de pouco mais de 4 mil habitantes não tem uma UTI sequer e teve nove mortes por Covid-19. O número levou o município a ter a maior proporção de mortes em relação à população entre todas as cidades brasileiras com menos de 100 mil habitantes.

A notificação do primeiro caso em Gastão Vidigal ocorreu no dia 7 de maio, 71 dias após a confirmação da primeira infecção pelo novo coronavírus no país. Em junho, já havia 36 infectados e seis mortos. Segundo o prefeito da cidade, Carlos Breseghello (PP), o feriado de Dia das Mães foi um dos motivos para o alastramento da doença na cidade, já que moradores de São Paulo foram ao interior visitar suas famílias.

Em entrevista à Pública, o chefe do gabinete da prefeitura de Gastão Vidigal afirmou que, apesar da surpresa com a pandemia, a situação da cidade está normalizando e o avanço dos casos, diminuindo. Os dados dos boletins oficiais, contudo, colocam dúvidas sobre essa afirmação: o último aumento de casos no município aconteceu no dia 3 de julho, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. Além disso, há algumas discrepâncias entre os números relatados pela prefeitura e o ministério: o último boletim municipal de Gastão Vidigal contava 10 óbitos e 90 casos de Covid-19, ainda mais que a quantidade apresentada pelo governo federal, de 47 casos e nove óbitos.

Segundo o último boletim do Ministério da Saúde, as infecções pelo novo coronavírus no interior do estado de São Paulo não está em queda, antes o contrário. Na 16ª semana epidemiológica, 69% dos casos e 68% dos óbitos no estado de São Paulo se concentravam na capital, enquanto o interior representava cerca de 30% de casos e óbitos confirmados. A situação mudou com a interiorização da pandemia: dez semanas depois, o interior do estado representa 54% dos casos e 51% das mortes pelo novo coronavírus.

Procurada pela Pública, a Secretaria Estadual de Saúde afirmou que Gastão Vidigal está em condições de atender pacientes. A pasta afirmou que casos mais graves são transferidos para municípios vizinhos como Votuporanga, pertencente à rede de saúde de São José do Rio Preto, onde, segundo a secretaria, a taxa geral de ocupação é de 49% dos leitos de UTI e 37,1% nos leitos de enfermaria reservados para Covid-19. Porém, dados do Censo Covid-19, realizado pela Secretaria, mostram que o número de novas internações no Departamento Regional de Saúde de São José do Rio Preto aumentou 29,3% na última semana.

A vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), Cristiane Pantaleão, avalia, no entanto, não ser necessária a existência de leitos de UTI em todos municípios para que o sistema de saúde público funcione e atenda a população, pois ele é estruturado em rede. “Temos municípios de pequeno porte que têm uma estrutura de atenção básica bem formada. A gente precisa de uma atenção básica estruturada que dê conta de atender 85% dos pacientes que não vão precisar de estrutura hospitalar. E a gente precisa de um processo de trabalho regional, com a participação do estado, para organizar a rede de assistência hospitalar”, pondera.

Na avaliação de Cristiane, a falta de um protocolo para lidar com o novo coronavírus e possíveis tratamentos para a doença explicam o impacto inicial das mortes nessas pequenas cidades, mais que a falta de UTIs. “Não é isso que vai salvar. Ao contrário: se tenho leito de UTI e não tenho médico capacitado, eu mais mato. Então, eu preciso regionalizar. E para isso eu preciso do apoio do estado para, de fato, participar da regionalização: contratar leito de UTI, hospitais que estejam dispostos a atender, capacitar equipe do hospital, monitorar… Tudo isso faz parte de uma rede de atenção qualificada”, afirma. Na primeira semana de maio, o Ministério da Saúde, com o Conasems, elaborou um guia direcionado às administrações locais com estratégias de gestão. No dia 9 de maio, o Brasil contava 10 mil mortes confirmadas por Covid-19.

No Rio Grande do Norte, o Ministério Público do Trabalho apontou que deslocamento de trabalhadores para usinas de energia eólica contribuiu para disseminar coronavírus

No Rio Grande do Norte, cidade aposta em ivermectina e vê mortes aumentarem

Uma das maiores produtoras de sal do país, a pequena cidade litorânea de Areia Branca, no Rio Grande do Norte, é um polo de empresas de salinas e de energia eólica – atividades consideradas essenciais durante a pandemia. A 270 quilômetros de Natal, capital do estado, o município de 27 mil habitantes contabilizava, até o dia 7 de julho, 42 óbitos por Covid-19. A cidade é hoje a segunda do país com mais mortes pela doença em relação à população, entre os municípios com menos de 100 mil habitantes.

Foi justamente o setor de salinas um dos responsáveis por disseminar o vírus na cidade, segundo avaliação do Ministério Público do Trabalho (MPT), como explica o procurador Gleydson Gadelha. “É uma questão para o MPT: nos locais onde as atividades são ditas essenciais, há realmente um aumento do número de casos de Covid-19. Aqui no Rio Grande do Norte, existe uma reunião muito concentrada [das empresas de salinas] no nosso litoral e muitos trabalhadores se deslocam para lá, até com fretamento de ônibus. E isso é um potencializador também. E são geralmente municípios em que a questão do isolamento não chegou com muita força”, pontua Gadelha.

O Porto Ilha, terminal salineiro gerido pela Companhia Docas do Rio Grande do Norte (Codern), está localizado a 26 quilômetros da costa de Areia Branca. Um dos primeiros casos positivados de Covid-19 da cidade, informou a prefeitura à Pública, foi de um caminhoneiro que trabalha com a escoação da produção do porto entre o Rio Grande do Norte e o Ceará. No final de março, a prefeitura de Areia Branca entrou na Justiça para que a empresa estatal adotasse medidas de controle e prevenção contra o novo coronavírus, como a aferição da temperatura dos trabalhadores que retornam da plataforma em alto-mar. O juiz federal Lauro Henrique Lobo Bandeira concedeu liminar favorável ao município e solicitou a inspeção do terminal e adoção das medidas preventivas.

Além das atividades econômicas, que aumentam o fluxo diário de pessoas em Areia Branca, o assessor jurídico do município, Igor Campos, membro do comitê gestor de combate à Covid-19, indica a baixa adesão à quarentena e ao isolamento social como fator para incidência de óbitos na cidade. A taxa de isolamento social no município variou, mesmo com decretação de lockdown, entre 40 a 45%, quando o ideal deveria ser acima de 60%. A cidade tem apenas um hospital de pequeno porte e nenhum leito de UTI – foram criadas, segundo a prefeitura, três salas de estabilização por causa da pandemia.

“O grande problema – não só de Areia Branca, mas de outros municípios – é a ausência de uma estrutura do município, tendo em vista que apenas o regional com estrutura de UTI fica em Mossoró, cidade que fica a 160 quilômetros. Então, o objetivo é evitar que pessoas do grupo de risco que elas chegam a nosso conhecimento quando o caso já esteja avançado. Por isso, adotamos medidas de fiscalização recorrente nos bairros e das pessoas”, analisa Campos.

Apesar de a ivermectina e a azitromicina não terem eficácia comprovada para tratar a Covid-19, a prefeitura de Areia Branca tem utilizado os medicamentos para tratamento precoce de pacientes com sintomas leves. À reportagem, o assessor do município informou que o novo protocolo foi estabelecido em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Passamos a fazer um trabalho preventivo com pessoas do grupo de risco que passam a apresentar sintomas. Elas passam a fazer parte de um grupo que é fiscalizado e monitorado por agentes do município, seja por contato telefônico, seja indo diretamente na residência com uma equipe, que está fornecendo medicação específica”, explica Campos.

Segundo a prefeitura, o método “obteve sucesso” para estancar as mortes na cidade por Covid-19. No entanto, dados oficiais contestam essa versão e mostram que Areia Branca ainda tem dificuldades em desacelerar o ritmo dos óbitos. Entre 23 de junho e 7 de julho, a cidade registrou sete mortes, passando do quinto para o segundo lugar com mais mortes entre os municípios com menos de 100 mil habitantes.

Casos e mortes causadas pelo coronavírus têm crescido em comunidades ribeirinhas na Amazônia, onde é mais difícil o transporte para centros urbanos com hospitais e leitos de UTI

Em pequenas cidades do Pará, mortes por coronavírus avançam em comunidades ribeirinhas

O primeiro caso de Covid-19 em Curuçá, cidade localizada na região do Marajó, no Pará, foi diagnosticado em 22 de abril. Em 7 de julho, menos de três meses depois, a cidade de 40 mil habitantes passou a contar 49 óbitos pela doença. O município é o sétimo do país com mais mortes em relação à população entre as cidades com menos de 100 mil habitantes.
A mais de 130 quilômetros de Belém, Curuçá é uma região que concentra comunidades ribeirinhas – 62 comunidades rurais pertencem ao município. Segundo o monitoramento feito pelas autoridades de saúde do município, depois da região central, o Abade foi o bairro mais afetado de Curuçá, com 250 casos confirmados de Covid-19. A comunidade é uma vila de pescadores na parte continental do município, a 4 quilômetros do centro. Localizada em uma área movimentada por um porto, onde atracam barcos que chegam de diversas regiões do estado e do Amapá, a comunidade de pescadores contabilizou 11 mortos.

De acordo com Socorro Ruivo, secretária de Saúde de Curuçá, a falta de uma orientação única interferiu no estágio inicial da disseminação do vírus na região. “Fomos avançando aos poucos porque a maioria de nós não sabia como tratar. Cada momento que aparecia uma nova forma de cuidado, a gente adotava no nosso plano de ação”, comenta a secretária.

Segundo o promotor de justiça Ney Tapajós Ferreira Franco, a Promotoria de Justiça de Curuçá expediu diversas recomendações aos municípios da região a fim de fiscalizar as políticas públicas de prevenção, contenção e tratamento. “O cumprimento das recomendações foi acompanhado pela Procuradoria e, em alguns casos, resultou no ajuizamento de ações civis públicas para efetivação das medidas recomendadas”, afirma em nota. “Acredita-se que o número de casos positivos no município de Curuçá decorreu da dificuldade inicial da população local em atender as normas preventivas, notadamente quanto ao isolamento social. No entanto, vem se observando o uso generalizado de máscaras e o controle das aglomerações geradas pelo pagamento do auxílio emergencial e outros benefícios sociais junto à casa lotérica local e agências bancárias.”

Único na cidade, o Hospital Municipal de Curuçá tem pequeno porte, com 27 leitos. Os casos mais complexos são encaminhados para o Hospital Regional do Leste, em Paragominas, ou para a capital, Belém. A viagem leva mais de duas horas de carro pela BR-316.

O cenário de Curuçá se repete em outro município paraense. Com 11,6 mil habitantes, a cidade de Senador José Porfírio, na região do Xingu, não possui leito de UTI e, até o dia 7 de julho, somava 442 casos confirmados e 16 mortes. O município tem apenas 15 leitos clínicos – com a expansão dos casos de Covid-19, a prefeitura abriu mais oito leitos e uma unidade sentinela específica para o tratamento da doença. Mas os casos complexos são encaminhados ao Hospital Regional Público da Transamazônica, em Altamira, a 160 quilômetros.

De acordo com o promotor de justiça Fabiano Oliveira Gomes Fernandes, a disseminação da Covid-19 nos municípios ribeirinhos, como Senador José Porfírio e os vizinhos Vitória do Xingu e Porto de Moz, “foi avassaladora”. Para o membro do Ministério Público do estado do Pará, “a questão cultural do município pode ter contribuído para aumentar os números, já que se trata de cidade muito pequena, cujas famílias são muito grandes e convivem muito juntos, não raro, moram várias gerações numa mesma casa”, avalia.

Antônio Carlos Lima, enfermeiro e professor na Universidade Federal do Pará, observa que a transmissão do novo coronavírus no município foi intradomiciliar e “mais rápida e intensa” nas áreas ribeirinhas da região do Xingu. “A região tem a característica de as famílias serem grandes e culturalmente estarem muito próximas. Acreditamos que a disseminação ocorreu até antes mesmo do alerta do Ministério da Saúde. Ou seja, o vírus já estava tendo uma circulação decorrente do transporte fluvial, que vai de Manaus, passa por Santarém, Macapá, toda essa área. Já havia uma circulação viral alta e essa situação acabou adentrando as casas das famílias e as pessoas mais suscetíveis à doença”, analisa o profissional.

Lima destaca também o número de contaminação dos profissionais da saúde do município. O primeiro paciente que teve caso confirmado no município foi um funcionário da Secretaria de Saúde transferido para o hospital de referência, em Altamira.

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública


 

 Por ir ao encontro da linha editorial da REDE HOJE e trazer temas de relevante interesse social, que geralmente são esquecidos pela grande mídia publicamos as reportagens da AGÊNCIA PÚBLICA, com autorização. Tire um tempo e leia as reportagens semanais.Você define o que é importante ou não, mas REDE HOJE aposta, tem certeza que você será tocado pelos textos e vídeos da PÚBLICA que estamos focalizando. Mais uma vez, obrigado pela confiança em nosso trabalho.


 

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VACINA.Grupo da UFMG desenvolve vacina para covid-19 baseada no uso de BCG recombinante

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Criado em Quinta, 02 Julho 2020 10:18

Pesquisadores esperam gerar processo de imunização dupla, eficaz contra tuberculose e coronavírus; testes preliminares em humanos são estimados para 2021

02.07.20 Mycobacterium bovis BCG Foto de Fabio Vitarelli Marinho

 

Mycobacterium bovis BCG|Foto de Fabio Vitarelli Marinho


 Da redação da Rede Hoje


Grupo do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG está desenvolvendo, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, com o Instituto Butantan-SP e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Doenças Tropicais (INCT-DT), uma vacina contra a covid-19 baseada no uso de BCG recombinante. A ideia dos pesquisadores é criar uma variante do método de imunização utilizado para tuberculose expressando antígenos do vírus SARS-CoV-2. 

O projeto foi iniciado em março com base nas pesquisas que o grupo realizava anteriormente com a vacina do bacilo Calmette–Guérin, a famosa BCG. Como explica o coordenador do estudo, professor Sergio Costa Oliveira, ela possui efeitos inespecíficos capazes de ajudar o sistema imunológico a combater algumas outras enfermidades, como é o caso do câncer de bexiga, esquistossomose e até o HIV. 

 

“Nós pensamos em pegar essa plataforma da vacina existente contra tuberculose, que já é usada há vários anos e se mostrou extremamente segura, e fazer com que essa bactéria [bacilo Calmette–Guérin] produza importantes proteínas do vírus SARS-CoV-2, gerando uma vacina dupla. Ou seja, vai funcionar tanto para tuberculose quanto para a covid-19”, esclarece Costa. 

 

Além do benefício de atuar concomitantemente em dois fatores, o potencial do estudo se destaca por se tratar de um método já constante no plano nacional de vacinação. Isso implica em certas facilidades na questão regulatória. “Quando estamos lidando com vírus você tem protocolos de segurança que devem ser realmente muito rígidos. Como a BCG já é utilizada no Brasil, essa etapa vai ser muito mais rápida para obter aprovação. Afinal, a única modificação será que a bactéria produzirá novas proteínas do vírus”, salienta o professor da UFMG. 

 

O poder da BCG

 

O trabalho dos profissionais tem como foco a bactéria Mycobacterium bovis, alvo da vacina BCG. Ela possui um potente efeito adjuvante conhecido para indução da imunidade humoral e celular em animais e humanos, o que implica no aumento da eficiência de vacinas e tratamentos a partir de seu uso. Atualmente essa imunização é a mais utilizada no mundo, com acima de 4 bilhões de administrações registradas.

 

Segundo os pesquisadores, a vacina do bacilo Calmette–Guérin induz proteção em neonatos, apresenta alta estabilidade, fácil produção em massa e baixo custo. Considera-se que o BCG recombinante mantenha as vantagens do BCG, que é um organismo de crescimento lento e fornece uma exposição antigênica de baixo nível e persistente, favorecendo a indução de uma resposta imune celular e/ou humoral duradoura com apenas uma dose. É por estas características que ela se mostra tão promissora como base imunizante para a covid-19.

 

Na realidade, a BCG parece apresentar outros efeitos heterólogos que têm sido associados à diminuição da mortalidade e menor prevalência de outras infecções, e por isso especialistas levantam a possibilidade de que em países onde a vacinação é obrigatória existiria uma menor incidência de casos de coronavírus.

 

A estratégia vacinal do grupo é construir uma cepa de BCG expressando a proteína viral spike e do nucleocapsídeo, presente no SARS-CoV-2. Além disso, pretendem usar um adjuvante para ativar a produção de Interferon do tipo I, proteína que tem importante papel na resposta antiviral e no recrutamento de linfócitos.

 

Testes

Apesar das previsões positivas quanto à etapa de regulação, a estimativa de uma data para a disponibilização da vacina ainda não pode ser definida. O processo de desenvolvimento está em fase inicial. Por enquanto o grupo acredita que os testes com animais em laboratórios deverão ser concluídos até o final do ano, o que possibilitaria avançar para testagem preliminar em humanos em 2021. 

Recentemente o grupo do Laboratório de Imunologia de Doenças Infecciosas da UFMG, junto com outras iniciativas do Programa de Pós-Graduação da Genética da UFMG, coordenado pelo professor Vasco Azevedo, foi aprovado na chamada da Capes 11/2020 em Fármacos e Imunologia. O programa, que foi criado para apoiar projetos de pesquisa científica e tecnológica voltados exclusivamente ao combate à pandemia da covid-19, vai auxiliar na celeridade do estudo através dos recursos concedidos para o trabalho.

 

Fonte: Assessoria de Imprensa UFMG


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SAÚDE. Pesquisadoras alertam para a disseminação de notícias falsas sobre o uso de plantas medicinais no combate ao Coronavírus

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Criado em Domingo, 21 Junho 2020 06:33

Pesquisas envolvendo algumas espécies medicinais e a infecção por Covid-19 apresentam resultados promissores quanto à inibição de enzimas envolvidas no processo de infecção viral, mas, ainda são ensaios biológicos laboratoriais preliminares

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A Melissa é uma espécie medicinal com benefícios terapêuticos comprovados como ansiolítico – Foto Maira Fonseca/ EPAMIG


Da Redação da Rede Hoje Material produzido pela Epamig - MG


As plantas medicinais e muitos outros produtos naturais de origem mineral e ou animal, incluindo produtos biotecnológicos, são utilizados há tempos pelas diversas civilizações do mundo para tratar enfermidades, incluindo doenças virais. Além disso, são os principais agentes bioativos precursores dos vários medicamentos e vacinas comercializados atualmente.

O conhecimento milenar da medicina tradicional levou a combinação de plantas medicinais na composição de formulações para reestabelecer a saúde e tratar o paciente holisticamente, recuperando-o, em sua totalidade.

A combinação de plantas usadas durante a pandemia tem como alvos: o vírus, a inflamação aguda e a imunidade do paciente. Pesquisas envolvendo algumas espécies medicinais e a infecção por Covid-19 apresentam resultados promissores quanto à inibição de enzimas envolvidas no processo de infecção viral, entretanto, ainda são ensaios biológicos laboratoriais preliminares. Sendo de extrema importância ressaltar que não há plantas medicinais ou produtos oriundos destas, que estão validados cientificamente e são eficazes para o tratamento da Covid-19. 

A falta de medicamentos eficazes contra infecções virais aliada resistência a medicamentos antivirais existentes no mercado e à falta de vacinas preventivas da Covid-19, torna urgente a busca e otimização de novos tratamentos que podem contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias ou desenvolvimento de novos agentes antivirais eficazes e seguros. Até o momento não há comprovação científica de frutas, verduras ou plantas medicinais que, por si só, possam promover a cura dessa doença viral. O que se pode alcançar com o consumo desses produtos em uma dieta equilibrada é o fortalecimento do sistema imunológico e esse é um ponto positivo contra a Covid-19.

Autoras:

Andréia Fonseca Silva – Bióloga- Herbário PAMG – EPAMIG Sede Maira Christina Marques Fonseca – Engenheira Agrônoma – EPAMIG Sudeste

Bibliografia consultada

MALDONADO, C.; PANIAGUA-ZAMBRANA, N.; BUSSMANN, R.W.; ZENTENO-RUIZ, F.; FUENTES, A,F. La importancia de las plantas medicinales, su taxonomia y la búsqueda de la cura a la enfermedad que causa el coronavirus (COVID-19). Ecologia en Bolivia, v.55, n.1, p.1-5, abr. 2020. SILVA, F.G.C.; BORGES, A.L.T. F.; OLIVEIRA, J. V. L.; PRATA, A.P.N.; PORTO, I.C.C.M; ALMEIDA, C.A.C.; SOUSA, J.S.; FREITAS, J.D.; OLIVEIRAFILHO, A. D.; REIS, F.M.P.; OLIVEIRA, R. A. G.; SILVA, S.A.S.; NASCIMENTO, T.G. Foods, nutraceuticals and medicinal plants used as complementary practice in facing up the coronavirus (covid-19) symptoms: a review. 2020. Disponível em: https://preprints.scielo.org/index.php/scielo/preprint/view/317.



 

COVID-19. A preocupação com o aumento de casos em Minas após flexibilização é debatido pela Assembléia

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Criado em Quarta, 17 Junho 2020 10:42

Parlamentares também abordaram a votação do veto a PL sobre reajuste para servidores da segurança pública.

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Reunião de Plenário desta terça-feira teve debates sobre a situação da pandemia de Covid-19 em Minas Gerais - Foto:Luiz Santana

 


Da Redação da Rede Hoje


Parlamentares manifestaram preocupação com o aumento de casos de Covid-19 confirmados e de mortes em Minas Gerais com a flexibilização do isolamento social. Pronunciamentos sobre essa tema foram feitos em Reunião Especial de Plenário, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), nesta terça-feira (16/6/20).

 

O deputado André Quintão (PT) chamou a atenção para a interiorização da pandemia e o aumento da taxa de ocupação de leitos, que já estaria em situação alarmante em 12 das 14 macrorregiões de saúde do Estado. Ele pediu cuidado com a flexibilização e reforço das políticas sociais e econômicas para mitigar os efeitos do isolamento.

 

Combate à pandemia em MG e revisão salarial de servidores gera debates na ALMG

A deputada Beatriz Cerqueira (PT) pediu cautela. E citou caso de diretora de escola que testou positivo para coronavírus depois de entregar pessoalmente apostilas a alunos para o programa de retomada das aulas. A parlamentar avalia que a Secretaria de Estado de Educação deve orientar a comunidade escolar sobre os procedimentos a tomar após o contato com a diretora.

 

A deputada Andréia de Jesus (Psol) criticou o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro e do governador Romeu Zema sobre a flexibilização. “É impossível retomar as atividades com tanta contaminação", declarou. As deputadas Marília Campos (PT) e Ana Paula Siqueira (Rede) também demonstraram receio com o aumento do número de casos em Minas.

 

Já o deputado Doutor Jean Freire (PT) relatou o caso de um amigo seu, motorista de ambulância no Vale do Jequitinhonha, que não resistiu ao vírus.

 

O deputado Professor Cleiton (PSB) afirmou estar preocupado com a limitação da participação popular, especialmente dos servidores públicos, durante a pandemia


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PRISÃO. A ativista Sara Winter, líder do movimento 300 do Brasil,foi presa nesta segunda feira em Brasilia

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Criado em Segunda, 15 Junho 2020 09:14

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Sara Winter, presa nesta segunda no Distrito Federal. Foto: Repodução; Inmstagram


A prisão de Sara foi feita a pedido do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e teria relação com o inquérito das Fake News.


Investigada no inquérito das Fake News, a ativista bolsonarista Sara Winter, líder do movimento 300 do Brasil, que acampava em Brasília até o último sábado (13), foi presa pela Polícia Federal na manhã desta segunda-feira (15) em Brasília.

 

Segundo informações iniciais da PF, a prisão de Sara foi feita a pedido do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, e teria relação com o inquérito das Fake News.

 

Logo após ser um dos membros bolsonaristas alvos dos mandados de busca e apreensão do STF, no fim do mês de maio, a ativista usou as redes sociais para ameaçar o ministro Alexandre de Moraes. Na ocasião,  ela afirmou que ele "nunca mais teria paz" e que contaria com ajuda para descobrir onde ele mora e quem trabalha na casa dele. Em seguida, Moraes pediu à Procuradoria Geral da República "providências" sobre as ameaças .

Fonte IG


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CULTURA. Élida Amparo participa neste domingo de live sobre "Kalunga, a lingua secreta"

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Criado em Domingo, 14 Junho 2020 10:07

A transmissão será no facebook de Helena Silvestre que atua em movimentos de mulheres há muitos anos em São Paulo.


Da Redação da Rede Hoje


Helena-silvestreHelena Silvestre - reprodução Facebook

 

Um momento importante para todos que se interessam pela cultura popular, acontece neste domingo, a partor de 10 da manhã. A ativista patrocinense Élida Amparo, participa de uma live com Helena Silvestre, com o tema: "Kalunga, a lingua secreta", que é falada aqui na região desde o tempo da escravidão. Será pelo Youtube "Filosofias do Laco de Cá".

 

Helena Silvestre atua em movimentos de mulheres há muitos anos em São Paulo. O objetivo deste encontro, de acordo com Helena, é “compartilhar pessoas que eu tive o privilégio de conhecer nessa minha vida que carregam conhecimentos que não figuram no conhecimento oficial, acadêmico”, diz e convida: “domingo uma mulher muito querida e amada que é Élida Amparo, que conheci nas minhas andanças militantes, quando estive na cidade de Patrocínio, Minas Gerais, a convite de uma outra grande amiga - Bianca Gonçalves - que tem sido fonte para conexão de mulheres”, diz

 

elidaÉlida Amparo - reprodução Facebook

 

Helena Silvestre diz que “Minas é um estado negro, povos de diferentes países da África que foram sequestrados, escravizados e levados para lá. Neste domingo a gente vai conversar sobre uma coisa que eu acho super interessante, que descobri lá e queria dividir”

 

Explica os motivos da necessidade de as pessoas conhecerem a Kalunga, o dialeto africano usado pelos negros na época da escravidão na região de Patrocínio. “Não é para ficar sabido, mas é para melhorar nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Conhecimentos ancestrais me parecem tão importantes nesse momento para que a gente sustente vivos nas nossas nossas comunidades; resistindo ao genocídio”, diz Helena Silvestre.



 

REPORTAGEM. Desigualdade social é fator de risco para mortes de crianças e adolescentes por Covid-19 no país

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Criado em Quarta, 10 Junho 2020 08:34

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Número de mortes entre menores de 19 anos no Brasil é maior do que em outros países atingidos; especialistas apontam a pobreza como fator de risco para principais comorbidades infantis nesta pandemia, como asma e obesidade


Texto: Julia Dolce | Infográficos: Bruno Fonseca 

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Desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, há consenso internacional de que o principal grupo de risco da doença são idosos e pessoas com comorbidades graves. Mas, embora a maior parte das internações e óbitos pelo novo coronavírus siga esse padrão também no Brasil, o número de mortes e internações de crianças e adolescentes na pandemia no país está consideravelmente acima dos demais países. Segundo especialistas, a desigualdade social pode ser um dos fatores que explica o fenômeno. Levantamento realizado pela reportagem verificou que a maior parte dos menores de idade vítimas da doença vivia em periferias, favelas ou bairros pobres nas capitais brasileiras. Em São Paulo, por exemplo, 93% dos casos de mortes de crianças e adolescentes por Síndrome Respiratória Aguda, comprovadamente relacionadas ao Covid-19 ou sem motivo identificado, foram de moradores de bairros periféricos ou de baixa renda. 

Epicentro mundial do coronavírus desde o último domingo (31), o Brasil atingiu mais de 600 mil casos de infecções e já quase 40 mil mortes, sendo que ambos os dados estão bastante subnotificados; são cerca de 4,5 mil testes a cada 1 milhão de habitantes no país, mais de dez vezes menos do que os Estados Unidos, por exemplo. Das mortes notificadas no Brasil, 141 se referem a pessoas menores de 19 anos, conforme Boletim Epistemológico divulgado pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (MS) na semana passada. 

Entre as vítimas, há recém nascidos que pegaram a Covid-19 ainda na barriga da mãe ou no hospital, como Gabriel Martins, de São Vicente, litoral paulista, que viveu por apenas uma hora e não resistiu ao novo vírus. Ou Benjamin Gonçalves Santos, que nasceu em Maceió, e sobreviveu ao coronavírus por dois dias. Seu irmão gêmeo, Marcelo, sobreviveu. No site Inumeráveis, que traz depoimentos sobre as vítimas da doença, Gabriel é lembrado por ter sido “muito amado” na gestação, e Benjamin, como a “estrelinha” que chutava bem forte o lado direito da barriga da mãe. 

As faixas etárias mais afetadas por Covid-19 entre os mais jovens são as de menores de um ano de idade, com 41 mortes, e a de pessoas entre 15 e 19 anos de idade, com 25 óbitos registrados. Outras ferramentas públicas de dados, no entanto, já divulgam números maiores em relação à mortalidade de crianças e adolescentes. De acordo com o Portal da Transparência, ferramenta do Registro Civil brasileiro, que reúne informações de certidões de óbitos, já são 56 mortes de crianças menores de 9 anos no país e 313 mortes na faixa etária entre 10 e 19 anos de idade, somando um total de 369 mortes. Especialistas acreditam que as crianças que correm mais risco são as portadoras de comorbidades graves, principalmente aquelas que necessitam de internação hospitalar durante a pandemia. 

É o caso de um menino de cinco anos que já estava internado por meningite em São Gonçalo, zona metropolitana do município do Rio de Janeiro e de uma bebê de seis meses portadora de HIV que faleceu de uma suspeita de Covid-19 em Niterói (RJ), no dia 5 de maio. Uma criança de 1 ano e 5 meses, do sertão pernambucano, que tratava uma leucemia em um hospital de Recife também faleceu, assim como uma adolescente de 14 anos de Betim (MG), que aguardava um transplante cardíaco internada em um hospital de São Paulo desde janeiro. 

Também há registros de mortes de crianças e adolescentes indígenas, população considerada mais vulnerável a infecções virais. Um jovem Yanomami, de 15, morreu de Covid-19 no dia 9 de abril, tornando-se o primeiro caso da doença entre seu povo. O adolescente vivia em uma comunidade da região do Rio Uraricoera, que de acordo com relatos de indígenas, é tomada pelo garimpo ilegal, provável fator de infecção dos Yanomami. 

Para tentar chegar a um número de casos mais próximo do real, a Agência Pública investigou os casos de crianças e adolescentes hospitalizados no país por Síndrome Respiratória Grave Aguda (SRAG), a principal doença desenvolvida pelo novo vírus mundialmente, desde o início da pandemia. Os dados brutos de uma planilha do DataSus, do Sistema Único de Saúde (SUS), atualizada até esta terça-feira (2), mapeados pela reportagem, mostram que há mais óbitos e internações entre crianças e adolescentes do que as que aparecem nos registros oficiais. Desconsiderando os casos de SRAG sabidamente relacionados ao vírus da gripe, o Influenza, e também casos causados por fatores não-virais, há 225.164 registros de hospitalizações por SRAG nesta pandemia no Brasil, a maior parte resultando em internações, um aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano passado. 

De todos os registros de hospitalização por SRAG, são de menores de 19 anos, aproximadamente 8% dos casos. Em duas semanas a hospitalização de crianças e adolescentes cresceu 2% em relação aos registros totais. Do total de casos de crianças e adolescentes hospitalizadas por SRAG, 754 vieram a óbito, um número bem maior, portanto, do que os indicadores confirmados de Covid mostram.

HOSPITALIZAÇAO POR SARG

 

Bruno Fonseca/Agência Pública

De posse desses dados, a reportagem selecionou os casos de internações e óbitos de crianças e adolescentes nas capitais com mais casos da Covid-19, que também registram cerca da metade das internações e dos óbitos notificados como SRAG, e fez um cruzamento com os Códigos de Endereçamento Postal (CEP) dos hospitalizados. A intenção era descobrir se havia alguma relação entre o volume de internações e os endereços das vítimas. Apenas os casos até 18 de maio foram analisados, já que depois disso os dados de hospitalização disponibilizados pelo DataSus deixaram de incluir o CEP. 

Em São Paulo, capital com maior número de internações e mortes também de menores de 19 anos por SRAG, 50 das 54 mortes registradas até 18 de maio por SRAG causada por Covid-19 (ou ainda sem motivo identificado) foram de crianças ou adolescentes que viviam em bairros periféricos ou de baixa renda.

MORTES ATE POR SRAG SP

Bruno Fonseca/Agência Pública

Quando a pobreza se encontra com a pandemia

O bairro paulistano com maior número de mortes desse perfil social é Cidade Tiradentes, localizado no extremo da zona leste paulistana, que já ostentava um dos piores índices de mortalidade infantil da cidade, em torno 17.9 por mil bebês nascidos vivos. Em 2019, o Mapa da Desigualdade mostrou que a idade média ao morrer no bairro é a mais baixa de São Paulo, mais de 20 anos a menos do que a idade média ao morrer em Moema, área de alto poder aquisitivo na capital paulista. Cidade Tiradentes também concentra usuários do SUS – cerca de 80% da sua população usa exclusivamente a rede de saúde pública. Desde o início da pandemia, duas crianças e um adolescente morreram por síndrome respiratória no bairro. 

O médico da Família e Comunidade Roberto Trindade, que trabalha na Unidade Básica de Saúde (UBS) Inácio Monteiro, de Cidade Tiradentes, acredita que a condição socioeconômica é o fator mais importante para entender essa situação. Ele também afirma que apenas nas últimas três semanas a região tem recebido uma quantidade razoável de testes. Até então, a grande maioria dos casos era registrada como SRAG. 

Morador de Cidade Tiradentes desde criança, Trindade explica que a maior parte das famílias vivem em casas de dois cômodos, com até 10 pessoas, o que inviabiliza o isolamento social. Além disso, “a falta de políticas públicas e de segurança alimentar, entre n fatores, acaba favorecendo o adoecimento dessas crianças”, diz o médico. “Até porque, para a grande parte da população que continua exercendo suas funções, é impossível fazer home office, eles acabam indo trabalhar, tem contato no transporte público”, completa.

 jardim mirante

Gsé Silva/DiCampana Foto Coletivo

Jardim Mirante, zona sul de São Paulo

A reportagem percorreu bairros pobres e favelas da zona leste paulistana, região com mais casos de Covid-19 em São Paulo, como Jardim Silva Teles, Jardim Camargo Novo e Jardim das Oliveiras e notou um grande número de crianças brincando juntas nas ruas, sem máscaras. “ Fica muito difícil manter uma criança em casa, sendo que dentro dessa residência você não consegue oferecer opções de lazer”, explica Trindade. Quanto à falta de máscaras, o médico diz que vem da percepção de que elas não adoecem de Covid-19. “É um grave erro, existe essa falsa ideia de que as crianças não vão pegar, e os adolescentes têm essa ideia em relação a si mesmos”, afirmou. Também é comum que as pessoas menores de idade de classes mais baixas tenham a necessidade de trabalhar desde adolescentes, quase sempre em ocupações presenciais. 

O pediatra e infectologista Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo e médico no Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, concorda que a classe social dos doentes, já reconhecida como fator importante nas complicações de Covid-19 para adultos, também devem ser considerada para crianças. “Tenho clareza que as condições socioeconômicas, em um momento como este, afloram e mostram sua face de maneira mais evidente. Da mesma forma que entre adultos enxergamos esse cenário, ele é espalhado na população pediátrica, e ela também acaba sendo alvo de maior risco de complicações, hospitalizações e mortes em funções peculiaridades dessa população que a torna mais frágil”, aponta. 

Além de atender a população usuária do SUS na Santa Casa, Sáfadi atua na rede privada da capital paulista. Segundo ele, os hospitais particulares, que no início da pandemia no país eram o mais procurados, estão tendo uma diminuição de hospitalizações em relação à rede pública. “A doença primeiro circulou com mais intensidade em regiões teoricamente mais privilegiadas, talvez fruto da introdução do vírus por viagens internacionais. Em um segundo momento, ela vem se espalhando em comunidades mais vulneráveis. Inverteu a situação. Até vemos crianças nos hospitais privados, porque o vírus não escolhe indivíduos, mas ele tem impactos diferentes e acaba sendo mais agressivos nas populações mais pobres”. 

Bairros pobres do Rio de Janeiro ocupam segunda maior posição de menores internados

De acordo com o Portal da Transparência, São Paulo é o estado com maior número de crianças vindo a óbito por Covid-19, sendo 14 vítimas até agora. O Rio de Janeiro vem logo atrás, com 8 mortes, mas está à frente da capital paulista em relação às vítimas adolescentes: 57 contra 55 adolescentes paulistas que morreram por causa da doença. 

Na capital do Rio de Janeiro, os distritos de Ramos e Bangu lideram o número de hospitalizações de crianças e adolescentes, ambos com sete casos cada. O primeiro, localizado na zona norte carioca, é conhecido por seu “piscinão”, criado pelo governo estadual em 2001, justamente por causa da grande distância das praias, concentradas na Zona Sul. Já Bangu, mais conhecido por abrigar o Complexo Penitenciário de Gericinó, antigo Complexo Penitenciário de Bangu, fica na zona oeste do Rio de Janeiro. Bangu divide com Cabuis, localizado no distrito de Nilópolis, zona norte do município, a liderança em óbitos de crianças e adolescentes, com duas mortes em cada distrito. 

MORTES ATÉ 18

Bruno Fonseca/Agência Pública

As hospitalizações de menores de 18 anos por SRAG em outras regiões do país também preocupam. Pernambuco, Ceará e Maranhão, no nordeste, e Amazonas e Pará, no norte, puxam a curva de óbitos, que não para de crescer, para cima. Ceará, por exemplo, ocupa o terceiro lugar em mortes tanto da faixa etária de 0 a 9 anos (7 mortes) quanto 10 a 19 anos (41 mortes) no Portal da Transparência. Entre crianças dessa primeira faixa etária, Amazonas, Pará e Pernambuco dividem o quarto lugar, com três mortes cada, nos dados da plataforma. Entre menores de 10 a 19, Maranhão sobe para o quarto lugar, com 26 óbitos, seguido por Pernambuco (18) e Amazonas (5). 

A maior parte dos registros nos estados mencionados acima, no entanto, não tiveram seu CEP preenchido, portanto não foi possível concluir o perfil social da maioria das vítimas. 

Em Recife, nos casos preenchidos, o campeão de internações é o Centro, que não pode ser considerado um bairro pobre ou periférico, com 19 casos, seguido pelo bairro de baixa renda Curado, com 9, e, logo em seguida, por Iputinga e Ilha Joana Bezerra, ambos com sete hospitalizações, e também considerados bairros pobres. Em Fortaleza, onde a quantidade de registros não preenchidos é ainda maior, os bairros periféricos de Bela Vista e o Conjunto Ceará I dividem o pódio de mais internações de menores de idade, com três cada. 

O doloroso peso da pobreza

Se alguns fatores de risco da Covid-19, como o menor acesso à assistência médica, são consequência direta da pobreza, outros são mais complexos. Uma série de comorbidades, que vem se mostrando determinantes nos casos de complicações decorrentes da Covid-19 em jovens, também predominam nas classes mais baixas. A obesidade de crianças e adolescentes, por exemplo, maior entre as classes mais baixas, relacionada a um maior consumo de alimentos ultraprocessados, mais baratos e de acesso mais fácil para a população urbana com menor renda. 

A enfermeira Rosana dos Santos Costa, doutora em Ciências Médicas e professora da Universidade Federal do Piauí, explica que não raro a obesidade se combina com a desnutrição. “As crianças estão com peso acima do ideal, mas, normalmente, com evidências de carências nutricionais. Parece até um contrassenso, mas é a realidade”, explica. “Alimentação saudável é cara, verduras são caras, e as pessoas que não têm dinheiro conseguem mais facilmente comprar um pacote de salgadinhos, com gordura saturada, e isso mata a fome da criança. Mas a alimentação saudável também estimula o sistema imunológico, deixa ele mais competente e isso também é melhor contra a Covid”, sublinha. 

Em seu doutorado, Costa abordou a prevalência de outra comorbidade importante da Covid-19: a asma. Nos dados de hospitalização de menores de idade disponibilizados pelo DataSus, essa doença foi marcada como comorbidade em 1474 dos casos, o que representa 8% do total. O critério, no entanto, foi preenchido como “desconhecido” ou não foi preenchido em 73% dos casos, o que gera grande subnotificação da informação. Já a pneumopatia, nome genérico dado às comorbidades que afetam os pulmões, é presente em 3% das internações de crianças e adolescentes, mas a porcentagem de subnotificação por não preenchimento ou falta de informação do dado é ainda maior: 74%. O último Boletim Epistemológico do Ministério da Saúde, que considerou apenas os dados de SRAG cuja origem na Covid-19 foram confirmados, registrou a asma como comorbidade em porcentagem ainda maior, sendo a mais frequente em adolescentes, com 21,5% dos casos de hospitalização. 

A docente da UFPI conta que, já em seu doutorado, havia identificado que, nas crianças mais pobres, as crises asmáticas costumam levar a consequências piores. “Tem mais pobre asmático do que rico? Não, mas a asma é uma junção de fatores genéticos e ambientais. Se pensarmos no acesso à serviços de saúde, a um tratamento, e principalmente no controle ambiental necessário na asma, aí está a grande diferença, casas com poucos cômodos, muitas pessoas”, afirma. “Então, se já temos uma criança com um fator de risco grave, dentro de uma condição econômica precária que dificulta o controle, a criança tem grandes chances de complicar. Quando juntamos asma e Covid-19 é bem doloroso o peso da pobreza”. 

A médica Laura Lasmar, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lembra que estamos no meio da chamada “estação dos vírus” entre crianças, que costuma ir de março a agosto por conta do clima e do calendário escolar. Desse ponto de vista, a paralisação das aulas reduz a propagação dos vírus, favorecida em salas de aula lotadas. “A redução das internações por bronquiolite aguda é bem grande”, explica Lasmar. No entanto, no caso da Covid-19, a situação se agrava se a criança vive em ambientes mal ventilados ou em uma casa com muitas pessoas, “sendo parte delas outras crianças, e adultos que não puderam parar de trabalhar”, observa a médica. 

Lasmar destaca que para as crianças de classes mais baixas também há o impacto da falta das merendas escolares que acompanhou a paralisação das aulas. “Não sabemos se as crianças estão tendo condições alimentares adequadas em casa. A Covid-19 está disparada no nordeste e em regiões como o norte de Minas Gerais, onde as crianças dependem da merenda escolar para se alimentar”. 

A prevalência da hospitalização de crianças mais novas, na faixa etária entre alguns meses de vida e dois anos de idade, também é algo perceptível. Nessa idade, o sistema imunológico das crianças ainda é fraco e as condições ambientais em que elas vivem importam muito. “A SRAG na população pediátrica de fato é uma doença que tem entre os dois primeiros anos de vida a população mais atingida, isso tanto do ponto de vista de risco de hospitalização como de morte. Segue um padrão histórico”, explica o médico Marco Sáfadi.

As faixas etárias com maior número de hospitalizações pela doença, entre os menores de 19 anos, são a de um e dois anos de idade. A primeira tem 3.610 registros e a segunda, 2.358. Os dados mostram também que os registros de hospitalização vão diminuindo com o aumento da idade. A partir dos 15 anos, porém, os registros voltam a aumentar. 

HOSPITALIZACAO POR

Bruno Fonseca/Agência Pública

Perfil racial das crianças e adolescentes

A correlação racial também aparece nos dados de internações e óbitos de crianças e adolescentes por SRAG e Covid-19, como já havia apontado reportagem da Agência Pública em relação aos adultos. Também são os adolescentes e crianças de pele escura os que mais são hospitalizados por SRAG – a somatória de pretos e pardos é de 7.134 casos, enquanto os brancos representam 6.271 das hospitalizações de menores de idade. Os óbitos seguem o mesmo perfil. São 303 mortes menores de idade pretos e pardos, contra 237 brancos da mesma faixa etária. Logo em seguida vêm as crianças indígenas, com 134 hospitalizações e 17 mortes, uma relação de 12% de mortalidade. O critério “raça”, no entanto, foi marcado como “ignorado” ou mesmo não preenchido em 4.925 das hospitalizações e 189 dos óbitos. 

No Rio de Janeiro, de 30 mortes de crianças e adolescentes mortas por SRAG nesta pandemia, 13 são negras, quatro brancas, e as demais tiveram sua raça ignorada nos dados do DataSus. No Recife, cinco crianças das 11 crianças que vieram a óbito nesse contexto eram pardas, e não há informações raciais sobre as outras. Já em São Paulo, a proporção é um pouco mais igualitária. São 23 crianças registradas como brancas mortas por SRAG nesta pandemia e 16 crianças negras, além de uma criança indígena e 20 que não tiveram essa informação preenchida. Entre as mortes da Cidade Tiradentes, duas foram de menores de idade negros e a outra também segue sem informação. 

No Boletim Epistemológico divulgado pelo MS, a porcentagem de crianças negras entre os casos notificados de SRAG confirmada pela Covid-19 é de 55,3%, contra 42,6% de crianças brancas, 1,7% de indígenas e 0,4% de amarelas. Já entre adolescentes negros, a distância cresce ainda mais: São 59,4% de negros entre os casos notificados, contra 38,8% de brancos, 1,1% de indígenas e 0,6% de amarelos. 

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Bruno Fonseca/Agência Pública

Para jovens, Coronavírus é mais mortal no Brasil do que em outros países 

Um estudo feito pelo demógrafo francês Christophe Guilmoto, do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD) da Universidade de Paris, revela que que a mortalidade de jovens brasileiros por Covid-19 é praticamente dois terços maior do que a verificada em países ricos. A pesquisa, feita à pedido do portal G1, considerou, no Brasil, os dados do Portal da Transparência, e levou em conta a mortalidade em 10 países considerados desenvolvidos, Estados Unidos e países da europa ocidental. 

No Brasil, o novo coronavírus mata aproximadamente 5,9 pessoas de até 35 anos de idade por milhão de habitantes, nos demais países analisados, na mesma faixa etária, a Covid-19 mata 3,5 pessoas por milhão. Isso representa uma mortalidade 65,4% maior de jovens brasileiros. 

Na faixa etária de 0 a quatro anos de idade, a mortalidade de meninos é 1,2 por milhão, no Brasil, e de meninas, 1,5. Já nos “países ricos”, a mortalidade dessa faixa é, respectivamente, por gênero, 0,3 e 0,4 a cada um milhão. Já em crianças entre cinco e nove anos no Brasil, a mortalidade masculina e feminina é 3,1. Em países ricos, nessa faixa etária, a mortalidade é 0,3 para ambos os gêneros. A diferença cresce em paralelo com as próximas faixas etárias. Aproximadamente 8 meninos e 6,3 meninas morrem de Covid-19 no Brasil a cada 1 milhão de vítimas da doença. Nos países ricos, os números ficam na casa decimal (0,7 e 0,5). Já entre 15 e 19 anos de idade, a mortalidade sobe para 8,8 para brasileiros e 6,8 para brasileiras. Nos países ricos, ela sobe para 2,2 e 1,2, respectivamente. 

Em entrevista à reportagem, Guilmoto afirmou que a melhor forma de estabelecer o perfil socioeconômico desses jovens morrendo no Brasil é justamente mapear em que região e bairro viviam, dado que ele não possuía quando publicou a pesquisa. Entretanto, ele antecipou que em outros países, como Estados Unidos e França, os agrupamentos de áreas mais afetadas são, geralmente, bairros mais pobres, “de minorias sociais”. 

“Há duas geografias. Primeiro, áreas mais afetadas são áreas de maior mobilidade, tipicamente no Brasil regiões como Rio de Janeiro e São Paulo. Depois vemos uma geografia de classes, classes pobres e ricas, geralmente, vivem separadamente. Então vemos essas diferenças socioeconômicas. Se nos países onde conseguimos microdados mais aprofundados, esse fator é muito bem identificado, podemos esperar o mesmo do Brasil”, afirma. 

Responsabilidade do governo

De modo geral, os especialistas ouvidos pela reportagem recomendam para crianças e adolescentes as mesmas orientações da OMS para evitar o coronavírus. No caso da população de menor renda e que vive em situações mais vulneráveis, a pediatra Laura Lasmar destaca a importância da hidratação, da tentativa de uma alimentação saudável e da necessidade das pessoas utilizarem máscaras dentro de casa, ao redor das crianças, e sempre que saírem, além de recomendar que as janelas sejam deixadas frequentemente abertas e que as famílias passem água sanitária em paredes mofadas, para diminuir a população de fungos que podem causar uma crise asmática em crianças. 

A médica ressalta também a importância de manter a vacinação das crianças em dia, mesmo durante a pandemia. “Não tenham medo de lavar as crianças para vacinar e, se ela tem alguma doença, manter o tratamento no posto de saúde. Isso ajuda as comorbidades a não se agravarem”. A medida também é reiterada pela professora Rosana Costa: “Lugar de criança doente não é em casa sem saber o que tem, ela tem que ser avaliada por um profissional de saúde para ficar em casa depois, de forma segura”, completa. 

Os especialistas também destacam o papel do governo para reduzir as vulnerabilidades enfrentadas pelas populações mais pobres do país. “A condição socioeconômica precária complica tudo. É uma luta que o país precisa comprar se quiser ter menor gasto com todos os outros indicadores de saúde”, opina Costa. Já o médico Marco Aurélio Sáfadi acredita que uma proteção efetiva para esse grupo social só virá com a criação da vacina contra a Covid-19. “Quando tivermos a vacina, essas populações mais frágeis, incluindo essas crianças, devem ser incluídas como grupos prioritários”.  

Reportagem originalmente publicada na Agência Pública


 Por ir ao encontro da linha editorial da REDE HOJE e trazer temas de relevante interesse social, que geralmente são esquecidos pela grande mídia publicamos as reportagens da AGÊNCIA PÚBLICA, com autorização. Tire um tempo e leia as reportagens semanais.Você define o que é importante ou não, mas REDE HOJE aposta, tem certeza que você será tocado pelos textos e vídeos da PÚBLICA que estamos focalizando. Mais uma vez, obrigado pela confiança em nosso trabalho.


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AÇÃO. Corpo de Bombeiros de Minas monta operação de guerra contra a Covid-19: entenda as ações

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Criado em Terça, 09 Junho 2020 11:08

Com sua expertise de gestão em desastres, o Corpo de Bombeiros tem apoiado a SES, cedendo alguns de seus talentos humanos para atuarem em conjunto no desenvolvimento de diversas ações.

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Os resultados refletem o quanto a integração tem sido importante para reduzir os danos causados pelo coronavírus. Foto: Divulgação CBMMG


Da redação da Rede Hoje


O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) tem atuado de forma contundente em ações da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e os resultados refletem o quanto a integração tem sido importante para reduzir os danos causados pelo coronavírus. A pandemia causada pela Covid-19 tem se tornado um grande desafio a ser vencido ao redor do mundo. No Brasil, muitos estados têm amargado tristes resultados de mortes de civis e também de profissionais que atuam na linha de frente.

 

Com sua expertise de gestão em desastres, o Corpo de Bombeiros tem apoiado a SES, cedendo alguns de seus talentos humanos para atuarem em conjunto no desenvolvimento de diversas ações. Bombeiros militares estão atuando em frentes como o Comitê de Integração voltado para fomentar a colaboração dos órgãos do Estado e da União; o Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes) e o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS). 

 

O CBMMG montou ainda uma Sala de Situação que atua permanentemente na recepção de informações e análise estatística, preparação dos informes gráficos, determinação de indicadores, produção de relatórios e informativos e monitoramento diário de informações, a fim de subsidiar a tomada de decisões, a comunicação com os demais atores e a gestão da situação da Covid-19 no estado. 

 

Além de todas essas frentes de atuação, o Corpo de Bombeiros elaborou rigorosos protocolos de biossegurança para garantir a preservação dos militares na atuação operacional diária e protocolos para lidar com vítimas supostamente contaminadas. O CBMMG é um dos poucos Corpos de Bombeiros do país em investir em tecnologias modernas de paramentação e cuidados com a tropa. Ações que, além de preservar a saúde dos militares, contribui para evitar a proliferação da doença na sociedade mineira.


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SAÚDE. Pressionado, Governo volta atrás e Ministério da Saúde anuncia nova plataforma com dados totais da Covid-19

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Criado em Terça, 09 Junho 2020 00:51

 A decisão aconteceu na noite desta segunda, plataforma divulgará informações completas diariamente às 18h30

Reuters|Agustin Macarian

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 O governo desitiu de divulgar os dados das últimas 24 horas e apresentou a nova plataforma de consolidação dos dados sobre a covid-19


Da Redação da Rede Hoje


O Ministério da Saúde recuou e vai apresentar os números disponiveis de mortes e casos confirmados da Covid-19. Apresentou a nova plataforma de consolidação dos dados sobre a covid-19 no país. Ela será disponibilizada e a forma de contabilização das mortes será alterada, porém com a data de ocorrência e do momento em que apareceram os sintomas de cada paciente. As secretarias estaduais enviarão as informações até as 16h e os dados totais nacionais serão divulgados até as 18h30. 

O anúncio foi feito na noite desta segunda-feira,8, pelo secretário executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, depois de pressão da imprensa, comunidade científica brasileira e internacional, OAB e de autoridades do Congresso. 

“Num primeiro momento a gente vinha trabalhando com data de notificação. Ela prejudica uma análise. Nossa intenção é trabalhar com a data de ocorrência e ao momento em que apareceram os sintomas de cada paciente”, afirmou Franco. 

O diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, Eduardo Macário, acrescentou que o objetivo é parar de reunir as planilhas dos estados e que eles possam alimentar os registros diretamente. 

“A partir do momento em que tivermos sistema de informação implantado nos municípios que atendam aos requisitos mínimos, vamos deixar de receber planilhas em que pode haver erros de atualização para adotar plenamente o sistema de informação que têm importância, como sintomas, sexo, cor, profissão, fatores de risco”. 

Na apresentação da nova plataforma pelos representantes do Ministério da Saúde, a principal dúvida girou em torno do que acontecerá com os óbitos de dias anteriores cuja confirmação da infecção com o novo coronavírus seja descoberta posteriormente e se estas seriam contabilizadas no total. Perguntado sobre isso na entrevista coletiva, Élcio Franco respondeu que “o total continua o total”. Eduardo Macário completou que o total de registros do dia (as mortes notificadas, independentemente de quando ocorreram) continuará sendo divulgado, mas o dia de ocorrência será considerado e isso impactará a curva epidemiológica de evolução da pandemia. 

Até então, os dados estavam disponibilizados no site Painel Covid. Além disso, há dados de hospitalizações e mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), dentre as quais as por covid-19, no sistema de vigilância da gripe. Outra base de dados utilizada é a geral do Sistema Único de Saúde, o OpenDataSus. O intuito é consolidar essas bases de dados na nova plataforma. 

O novo sistema será disponibilizado já hoje (9), como parte do processo de mudança da forma de consolidação das informações pelo ministério anunciada ontem (7). Desde a semana passada, a pasta vinha divulgando os dados mais tarde, por volta das 22h. 

A alteração sofreu questionamentos do Ministério Público Federal (MPF) e da Câmara dos Deputados. A Organização Mundial da Saúde, em entrevista coletiva hoje, também defendeu que o Brasil seja mais transparente. 

Sobre a divulgação números diferentes ontem pelo Ministério da Saúde, o secretário Élcio Franco não explicou a origem e motivação da diferença entre os dados e a redução do número de mortes. 

Elcio Franco também ressaltou que não há intenção de recontagem de vítimas da covid-19.  

"Não há essa intenção. Esses dados são divulgados pelos estados e municípios, eles estão sendo baseados em análise clínica, o diagnóstico de um médico, que é um profissional de saúde. Eles são confirmados por testagem, feita em laboratórios particulares oficiais, então, da mesma forma que nós acreditamos nesses dados que nós estamos apresentando agora, nós acreditamos nos dados que foram carregados por estados e municípios", disse o secretário executivo do Ministério da Saúde.  

Para o governo, a divulgação do acúmulo de casos, como vinha sendo feito até o momento, dificulta a verificação das mudanças dos cenários regionais, estaduais e municipais. “O dado acumulado pode indicar uma grande quantidade de casos em localidades que já estão em outra fase da curva epidemiológica”, informou. 

Nos últimos dias, o governo já havia deixado de apresentar alguns dados consolidados e mudado a dinâmica de divulgação. Antes, a pasta divulgava boletins atualizados diariamente entre 17h e 18h, durante coletivas de imprensa. Desde a última quinta-feira (4), os dados têm sido divulgados próximo às 22h. 

Segundo o ministério, a adequação dos horários de divulgação dos dados é parte da estratégia da obtenção de informações mais precisas, pois o momento de divulgação está atrelado ao fechamento dos boletins epidemiológicos estaduais.

Fonte: Agência Brasil


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SOLIDARIEDADE. Campanha emergencial da LBV entregará mais de 15 mil cobertores a famílias mais vulneráveis

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Criado em Domingo, 07 Junho 2020 10:31

A campanha também dá continuidade às ações que vêm sendo realizadas junto ao seu time solidário de colaboradores, em combate aos efeitos da pandemia da Covid-19 


 Da Redação da Rede Hoje


lbv

A Legião da Boa Vontade iniciou mais uma campanha solidária DIGA SIM! A iniciativa, de caráter emergencial, visa a manutenção dos serviços e programas socioeducacionais da LBV e, mediante os recursos, fará a entrega de cobertores a famílias em vulnerabilidade social que sofrem com as baixas temperaturas em várias cidades brasileiras. Neste ano, a meta é entregar 15.400 cobertores no Distrito Federal e em cidades de Goiás, do Mato Grosso do Sul, de Minas Gerais, do Paraná, do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro, de Santa Catarina e de São Paulo.

 

A campanha também dá continuidade às ações que vêm sendo realizadas junto ao seu time solidário de colaboradores, em combate aos efeitos da pandemia da Covid-19. A Instituição está doando cestas de alimentos e kits de materiais de limpeza e de higiene a pessoas em risco social e alimentar, nas cinco regiões brasileiras, contribuindo no combate à fome e criando condições para que esse público possa enfrentar esse momento de forma digna e melhor.

 

Dessa forma, além do transformador trabalho que a LBV realiza diariamente em suas escolas, lares para idosos e centros comunitários, ela mobiliza mais uma vez a sociedade nessa ação solidária em favor de tantas famílias que sofrem com os extremos climáticos. Assim, é possível contribuir para a redução dos problemas sociais e levar a Esperança a essas populações.

 

Vale ressaltar que as entregas ocorrem de forma organizada para evitar aglomerações, respeitando o distanciamento de 1,5m entre as pessoas com o uso de máscaras, de luvas e de álcool em gel 70%, como recomendam os órgãos oficiais de saúde para prevenir qualquer contágio pelo novo coronavírus.

 

A Solidariedade não pode parar

Para que mais famílias recebam a ajuda necessária neste momento desafiador, a LBV precisa da sua ajuda! Por isso, quando a LBV chamar, atenda com o coração, DIGA SIM! Para colaborar, acesse o site lbv.org.br. A doação é simples, rápida e segura. Acompanhe as ações da LBV no endereço @LBVBrasil no Facebook e no Instagram.


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